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Marcados para morrer matam de raiva hoje os que morreram na praia

De acordo com a tese dominante entre os pensadores, pessoas com ideologias medíocres nunca irão valorizar as pessoas com boas condutas e valores. No jargão popular, almas e mentes doentias só conseguem desenvolver células cancerígenas, que são aquelas capazes exclusivamente de assassinar o pensamento crítico. Pois é justamente a vulgaridade de caráter o combustível utilizado pelos ditadores e falsos profetas para incitar os ignorantes. Dono de inteligência extremada, Duque de Caxias, “O Pacificador”, deve ter se juntado na manhã desta terça, 19, aos generais do golpe de 1964 para lamentar a mediocridade e a estupidez em que se embrenhou parcela ínfima das Forças Armadas do Brasil.

Na verdade, despertariam vermelhos de ódio com o tirânico modus operandi dos chamados “kids pretos”, grupo de elite do Exército que, em lugar de operações especiais, passou boa parte de 2022 planejando uma carnificina oficial, com destaque para a execução de um presidente e de um vice-presidente eleitos e de um ministro do Supremo Tribunal apelidado de xerifão. Se vivos fossem, Luiz Alves de Lima e os generais revolucionários talvez chorassem ouvindo o argumento golpista de um general, de um tenente-coronel e de dois majores do Exército, os quais, em nome de uma ditadura travestida de democracia, tramaram um golpe para derrubar um governo democraticamente eleito.

Que me perdoe a maioria dos militares honrados e honestos, mas o gesto dos colegas desonrados e desonestos é pior do que a sobra do pó do esterco de um cavalo. Copiando o ensaísta Saint-Clair Mello, não há razão que justifique uma ditadura atacar um país democrático. Mais criminoso do que a trama ter sido articulada em reunião ministerial no Palácio do Planalto, é um senador da República com pensamentos nada republicanos afirmar que pensar em matar não é crime. É o mesmo parlamentar que achava normal e politicamente correto desviar parte dos salários de assessores para o próprio bolso.

É a mesma coisa de dizer que os fins justificam os meios. Coisas de quem se acha acima do bem e do mal. E o que dizer dos oficiais presos? Nada além de que um grande líder pode ter uma patente, mas uma patente jamais fará um grande líder. Eles são a prova de que a mediocridade fica escondida até o dia em que a crueldade da verdade os transforma vergonhosamente em multiplicadores fajutos do fascismo. Não há o que comemorar com a prisão de tiranos fracassados. Também não há razão para dar cartaz a quem não merece. Esta é a razão pela qual preferi omitir todos os nomes.

Tristeza para o país que eles diziam representar, tristeza para a Força que desonraram e tristeza maior para seus filhos que provavelmente um dia os imaginaram heróis. Uma pena para os familiares desses protótipos da estupidez, mas, parafraseando o filósofo Friedrich Nietzsche, em tempo de paz o homem belicoso ataca a si próprio. Faz um ano que os quatro militares e o policial federal são investigados. Como vingança é um prato que se come frio, os atacados se aproveitaram da estultice dos atacantes e reagiram com inteligência. Como nas melhores fábulas, os marcados para estão bem vivos para, a passos lentos, matar de raiva e de inveja todos aqueles que, junto com os presos, sonharam em matar para ter um Brasil só deles.

Não tenho essa informação, mas não me parece casual a data escolhida para mostrar aos criminosos e a seus líderes que não há crime perfeito. Hoje, 19 de novembro, é o Dia da Bandeira, a mesma bandeira que, desavergonhadamente, serviu de babador para secar o veneno que descia diariamente da boca odiosa de alguns “patriotas”. Hoje também é o dia em que o presidente e vice-presidente que deveriam ser mortos passaram para a história como anfitriões de uma das promissoras reuniões do G20. Vale lembrar que seu antecessor tentou, tentou, mas morreu na praia. E, ao que tudo indica, de lá só sairá para um quarto escuro com cama de alvenaria. É o preço a ser pago por aqueles que confundem bomba caseira com a bomba da caserna. Quanto aos que não morreram, nada melhor do que um cartaz com a filosófica frase “Aquilo que não me mata só me fortalece”.

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