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Marcelo, 50, tataraneto de rei druso, é rei da TI com a Reitec

Hoje é dia de narrativa em poucas linhas. Do Líbano ao Brasil, com uma parada no Marrocos. Quatrocentos anos depois, na terra descoberta por Cabral. A primeira parada foi em Belém – a nossa, no Pará, não aquela onde uma estrela guiou os 3 Reis Magos. Depois, Recife… e Brasília.

A viagem teve início em meados de 1914, ano que começou com o prenúncio de terra banhada em sangue. Rifles, metralhadoras, canhões. E guilhotinas. Em junho irrompeu a I Guerra Mundial. O Império Otomano virou pó. E a França, antes de ser dado o primeiro tiro, já andava bisbilhotando o Vale do Bekaa, onde era produzido, dizia a lenda, o melhor vindo de todo o planeta.

Enquanto a Europa jorrava muito mais sangue do que aquele que manchou as ruas de Sarajevo, borbulhando das artérias do arquiduque Francisco Fernando, da Áustria, o xeique Mohamed Marmhut Sabra El-Awar – mal comparando, algo parecido como rei do Vale do Bekaa -, tinha sua cabeça decepada pela arma criada por Joseph Ignace Gillotin.

É um período de pouco mais de um centenário da história. O Vale do Bekaa, no sopé do Monte Líbano, é uma terra fértil. Mohamed, O Druso, dominava, por mais nômade que fosse seu povo, toda a planície. Seu sobrenome, difícil de pronunciar, corresponde, em tradução livre, a Guerreiro de Um Olho Só. Explica-se. Imagine-se com arco e flecha na mão. Para uma boa mira no alvo, você fecha um dos olhos. Dada a explicação, retornemos à narrativa.

Os franceses, que voltaram para seus portos após uma infrutífera tentativa de ocupar a terra tupiniquim onde Cabral chegou primeiro, aprenderam com o tempo. Um seu general, porém, não foi viver na Ilha de Santa Helena, para onde foi mandado Napoleão após a derrota de Waterloo. De olho nas terras e no vinho libaneses, um tio-avô de De Gaulle utilizou sua artilharia contra o xeique, que dispunha de arcos, flechas e sabres. O fim trágico de Mohamed está contado acima.

O druso de Bekaa, ali pela fronteira com a Síria, tinha dois filhos. Salim e Yousseff Hussein, herdeiros, como o pai, do sobrenome de Um Olho Só. Perseguidos pelos invasores franceses, os irmãos embarcaram em um porto do Mediterrâneo e aportaram no Marrocos. De lá para Belém, foi como dar braçadas em uma piscina do tamanho do Atlântico.

Os irmãos, drusos-cristãos como Pedro, O Pescador de Homens, montaram uma frota de navios e passaram a pescar peixes. Temendo que os príncipes voltassem para reclamar o trono, a França determinou uma caça às bruxas. Salim morreu vítima de um atentado, com uma bomba explodindo o barco que ele pilotava. Já Yousseff foi agraciado com o que se convenciona chamar Poder Divino. Foi a um cartório de Belém, naturalizou-se e disse lá, com seu sotaque carregado, José Sabra. O escrivão colocou um E entre o S e o A. Talvez por haver, no Pará, uma colônia portuguesa de sobrenome Seabra.

O então José pegou um Ita no Norte e desembarcou no Recife. Virou empresário da indústria da panificação, casou-se com uma portuguesa (Júlia), em quem plantou algumas sementes ao longo dos anos.

A história do reinado ficou para trás. As sementes germinaram, deram mais frutos e um, batizado Geraldo, veio para Brasília quando os candangos respiravam poeira na construção da nova capital. Trouxe na bagagem a esposa Madalena e cinco filhos. A prole cresceu com outros cinco, todos brasilienses.

Neste fim de semana (sábado 5 e domingo 6) Marcelo Seabra, tataraneto do xeique druso lá do início da narrativa, comemora 50 anos. Um belo e aconchegante espaço no Setor de Mansões Dom Bosco está recebendo um batalhão de parentes e amigos. Marcelo é filho de Betânia, a bisneta número 1. E, para fazer jus a Mohamed, virou rei da tecnologia.

A festa acaba logo mais, quando as estrelas começarem a tomar emprestado o brilho dos olhos do aniversariante, da sua mãe, da esposa Bia, dos filhos, tios, primos e amigos do peito. Marcelo tem sangue real nas veias. E comanda um reinado de TI. É a Reitec.

Quanto aos franceses, eles tomaram o Líbano como protetorado ao fim da I Guerra. Mas, em 1949, os Sabra El-Awar criaram sua própria bandeira. E até hoje, no Vale do Bekaa, transformam uvas em vinho. O conteúdo de algumas dessas garrafas será degustado ao longo do dia. Com direito a churrasco de carneiro, ao molho de hortelã. Tim-tim.

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