Menos de 24 horas depois de Donald Trump tomar posse como presidente dos Estados Unidos, milhares de mulheres ocuparam o centro de Washington para protestar contra sua administração e defender direitos que consideram ameaçados por sua gestão, entre os quais o principal é o acesso ao aborto.
Com chapéus cor-de-rosa, cartazes com palavras de ordem como “por que armas têm mais direitos que a minha vagina?”, elas viajaram a Washington de diferentes lugares dos Estados Unidos para demonstrar seu rechaço ao homem que veem como a essência da misoginia.
O slogan que orienta a manifestação foi celebrizado por Hillary Clinton em 1995, quando ela era primeira-dama: “direitos das mulheres são direitos humanos e direitos humanos são direitos das mulheres”.
Além de seus comentários depreciativos em relação ao sexo oposto, Trump é visto como uma ameaça a direitos reprodutivos femininos. Uma de suas principais promessas é a nomeação de juízes para a Suprema Corte que sejam contrários ao direito ao aborto. Mas a manifestação foi além de questões femininas, e abrangeu o apoio a imigrantes, defesa do controle de armas, a exaltação da diversidade de gênero, questões ambientais e respeito aos direitos civis e de deficientes.
Trump assumiu a presidência com o menor índice de popularidade para um presidente eleito dos EUA que se tem registro, com aprovação de 40%, metade da registrada por Barack Obama há oito anos. O republicano ganhou a disputa no Colégio Eleitoral, mas perdeu a votação popular direta por uma diferença de 2,9 milhões de votos para Hillary.
Cidades da Finlândia, Itália, Holanda, França, República Tcheca e África do Sul estão entre os países que já registraram manifestações a favor da Marcha das Mulheres realizada em Washington. No total, 30 cidades ao redor do mundo se juntaram aos atos anti-Trump.
Longas filas de quase três quadras para entrar em estações de metrô como a de Bethesda, nos arredores de Washington, já demonstravam a magnitude do evento. Os vagões estavam repletos de mulheres segurando cartazes com frases como “Alguém viu minha máquina do tempo?”, “Meu corpo, minha decisão” ou “Lute como uma menina”.
“A marcha é uma demonstração de nossa solidariedade e nossa crença de que os Estados Unidos devem ser grandes e devem respeitar todas as pessoas, de todos os credos e cores”, declarou à agência de notícias AFP Lisa Gottschalk, uma cientista de 55 anos que viajou da Pensilvânia para protestar.
“Estou muito preocupada pelo novo presidente. Vamos garantir que não faça coisas desonestas ou injustas”, acrescentou.
Cerca de 225.000 pessoas confirmaram sua participação na página do Facebook da marcha, e outras 250.000 disseram estar interessadas no evento.
Durante sua polêmica campanha, Trump foi acusado de comportamento impróprio com várias mulheres, depreciou uma ex-Miss Venezuela por estar acima do peso, insultou imigrantes mexicanos, classificando-os de “estupradores” e “narcotraficantes”, zombou de um jornalista com deficiência e ameaçou fechar as fronteiras do país a todos os muçulmanos.
Na sexta-feira, centenas de manifestantes já protestaram contra Trump durante a cerimônia de posse. A maioria de maneira pacífica, embora tenham sido registrados confrontos violentos com a polícia em dois protestos que terminaram com 217 detidos.
Uma longa lista de oradores, entre os quais figuram o cineasta Michael Moore, a atriz Scarlett Johansson e a lendária defensora dos direitos civis Angela Davis, esquentará os ânimos dos manifestantes antes do início da marcha.
As cantoras Cher e Katy Perry e a atriz Julianne Moore também anunciaram sua participação.