Marco nunca tinha ouvido falar em ghosting.
Aprendeu sobre a coisa lendo uma postagem no Facebook: “O ghosting acontece quando um casal está ficando ou namorando, e um deles desaparece, abandonando o outro, e este abandonado pode sofrer pelo término do relacionamento.”
Achou interessante e deixou sua imaginação voar livre. Primeiro pensou numa tradução para ghosting, palavra derivada do termo inglês ghost, fantasma; achou legal “fantasmagem”. Depois buscou explicações para o fenômeno. Foi além das observações sobre relações líquidas na pós-modernidade, e achou que a internet possibilitava um retorno simbólico à adolescência.
“Na rede, cada um pode falar abobrinha, que nem no ensino fundamental e médio. E os namoros e ficadas ficam parecidos. Nos tempos de escola, começam pela ação dos hormônios e terminam sem motivo real, simplesmente porque a fila anda, há muito mais gatas e gatos por aí, viçando, cheios de vida e energia, ansiosos por se iniciar ou se aprofundar nos jogos de sedução, amor e sexo.”
As redes sociais criam um ambiente parecido, concluiu. E oferecem uma enorme quantidade de parceiros e parceiras em potencial. Sem compromisso, porque distantes um do outro. Claro que não era a mesma coisa, a sopa de hormônios em ebulição da adolescência havia se tornado um caldo morno entre mulheres e homens maduros e idosos, o desejo diminuía, mas ainda assim era prazeroso.
Admitiu, a seguir, que gostava de namorar online e que já havia fantasmado (gostou de arranjar um verbo para a prática da fantasmagem) algumas mulheres. Algumas ficaram furiosas, outras tristes, considerando-se abandonadas. Fez um jogo de palavras, velho hábito seu: “Quem gosta não ghosta”. Mas ghosta sim e, no caso dele, as causas do abandono eram mais embaixo. Elas não tinham a menor ideia do esforço psíquico necessário para ele ligar, falar coisinhas provocantes e, em especial, manter uma ereção até que, do outro lado da linha, a mulher tivesse um orgasmo. Claro que ele não tinha. Sem dúvida, poderia fingir ter chegado ao clímax, como tantas mulheres fazem com os parceiros, mas seria pra lá de ridículo. O resultado é que continuava a tocar-se até o final da coisa, era o mínimo que devia à amante virtual. Com isso, ficava esgotado, nem conseguia voar por aí para assustar os outros, obrigação de todo fantasma que se preze.
Com um suspiro de resignação, Marco saiu pela janela para aterrorizar pessoas – em especial mulheres, gostava delas quando vivo e continuava a gostar, embora o consumissem psiquicamente –, cumprindo sua sina de abantesma.