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Março Vermelho ainda vai dar dores de cabeça a Temer

Cláudio Coletti

Ainda neste mês de março, a agenda do governo Michel Temer prevê fatos e situações com potencial de virar o Brasil de cabeça para baixo, ao provocar profundas mexidas no cenário político, econômico e social. A primeira bomba do mês veio na quarta-feira de Cinzas. O empresário Marcelo Odebrecht decidiu abrir o bico, afirmando que ia “deixar de ser o bobo da corte”.

Revelou ao Tribunal Superior Eleitoral que, só em 2014, sua construtora – a maior do país – destinou R$ 300 milhões para bancar campanhas eleitorais de candidatos à Presidência da República, governos estaduais, candidatos à Câmara dos Deputados e Senado Federal. Só para o PT foram R$ 150 milhões. O mais grave dessa história é que parte dessa montanha de dinheiro foi repassada por meio do caixa-dois, o que é proibido pela legislação vigente. Citou, além da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, como beneficiários dos repasses os então candidatos presidenciáveis Aécio Neves e Marina Silva.

Com esse depoimento-bomba, ganhou nova dimensão o processo que tramita no TSE, visando a cassação do registro da chapa Dilma-Temer, vencedora do pleito em 2014. A coligação PT-PMDB é acusada pelo PSDB de ter usado recursos ilícitos desviados da Petrobras para financiar sua campanha eleitoral. Este episódio complica bastante a situação de Michel Temer, pois há o risco, inclusive, de ter seu mandato cassado. Contudo, como muita água ainda vai passar debaixo da ponte, Michel Temer poderá se beneficiar de recursos “protelatórios”, que poderão chegar até ao STF. Assim, aos trancos e barrancos, ele poderá ultrapassar incólume os 21 meses e poucos dias que ainda faltam para o fim do seu governo. Mas ele terá, até lá, momentos de muitas expectativas e dores de cabeça.

Na última terça-feira surgiu um fato político que poderá indicar um futuro acordo PMDB- PSDB, com vistas à sucessão presidencial de 2018. Michel Temer empossou o senador paulista tucano Aloysio Nunes Ferreira como ministro das Relações Exteriores. Ele ficou no lugar do senador José Serra que se demitiu do cargo alegando motivo de doença grave. O presidente Temer está convicto de que seu PMDB não dispõe, no momento, em seus quadros, de um nome que tenha condições políticas para entrar na corrida presidencial que se avizinha. Sua estratégia é formar uma chapa com um nome do PSDB liderando a chapa. Ele poderá ser Aécio Neves, Geraldo Alckmin ou José Serra. Os três já disputaram a Presidência, sendo derrotados por Lula e Dilma Rousseff. Só o tempo dirá o resultado dessa pretensa estratégia de Michel Temer, e alimentada pelo ex-presidente FHC.

Também nos próximos dias a agenda de Michel Temer sofrerá um enorme abalo, que poderá atingir em cheio seu governo. A procuradoria-geral da República anunciou que enviará ao Supremo Tribunal Federal mais de duas dezenas de pedidos de abertura de inquérito contra centenas de políticos. Os que foram apontados nas delações premiadas dos 77 executivos da Odebrecht como beneficiários dos esquemas de recursos desviados da Petrobras.

Entre os denunciados, a expectativa é que apareçam nomes de atuais ministros, entre eles o poderoso ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Além dele, expressivos caciques do PMDB. São imprevisíveis os estragos que esse verdadeiro tsunami causará no cenário nacional.

Para tentar contrapor a esse arrasa-quarteirão, Michel Temer e seu ministro da Fazenda, Henrique Meireles, passaram a semana desenvolvendo frenéticas ações para evitar que a tragédia contamine a base aliada no Congresso Nacional. São enormes as reações no país às votações das reformas trabalhista e previdenciária. Sem elas poderão frustrar-se as medidas fiscais adotadas até agora para tirar o Brasil do fundo do poço, onde foi jogado pelos incompetentes governos do PT. Os sindicatos, com o apoio do governista Paulinho da Força, estão anunciando ir para as ruas em protesto a tais votações. Para deixar o governo mais atordoado, vários segmentos da sociedade brasileira estão se posicionando também contra as mudanças propostas pelo Palácio do Planalto.

Tencionando ainda mais o Brasil, os grupos Movimento Brasil Livre e Vem para a Rua programam manifestações em todas as capitais e grandes cidades para o próximo dia 26 (domingo). Os principais objetivos desses movimentos são a defesa das ações da Operação Lava-Jato e o fim do foro privilegiado. O receio do Palácio do Planalto é que tais manifestações de rua fiquem sem controle, provocando muita confusão país afora.

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