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Tradição no Nordeste

‘Maré Morta’ esconde tudo, menos a paz do litoral

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Autor/Imagem:
José Seabra - Foto Acervo Pessoal

De repente, silêncio. Nem o quebrar das ondas violentas na areia, as gaivotas desaparecem, os peixes mergulham para longe, os banhistas se recolhem em suas casas e até os bares ficam vazios. Tudo por conta da maré morta, ou maré buchuda, uma característica natural que ocorre nas regiões litorâneas, especialmente em locais onde o ciclo das marés tem grande influência sobre a vida cotidiana, como no Nordeste.

Essa expressão, compartilhada de sabor popular, representa uma maré de baixa amplitude, ou seja, quando há pouca variação entre a maré alta e a maré baixa. No linguajar dos nordestinos, a maré parece “morta”, ou “buchuda” (grávida), porque quase não se movimenta, como se estivesse “pesada” ou em repouso.

O interessante desse fenômeno, iniciado na quinta, 24, e que deve se estender até o domingo, 27, quando teremos um novo ciclo lunar, é percebido e narrado por quem vive do mar ou perto dele. Para pescadores e marisqueiras, a maré morta traz desafios. Durante esses dias, o mar não se afasta o suficiente para permitir que se recolham mariscos ou o acesso a locais de pesca mais distantes. O oceano parece respirar de forma mais lenta e suave, e as atividades que dependem diretamente das marés tornam-se menos produtivas.

Por outro lado, esse aspecto também carrega uma certa tranquilidade. Sem o vaivém intenso das águas, as praias ficam mais calmas, as ondas menores, e o litoral parece reservado, em um intervalo de paz antes que a força da maré viva (o oposto da maré morta) retorne com vigor.

Na cultura nordestina, especialmente entre as comunidades litorâneas, esses ciclos naturais moldam tanto o cotidiano quanto as tradições locais. Maré morta é sinônimo de paciência, de esperança pela abundância que virá com o movimento das águas. Afinal, a sabedoria popular ensina que o mar é cíclico e, assim como a vida, tem seus momentos de maré cheia e maré baixa, de fartura e escassez, mas sempre em movimento.

Essa maré também está associada, num diálogo ímpar, com a própria filosofia de vida das localidades ribeirinhas e costeiras. Saber entender os tempos de calmaria e os de melhoria faz parte da sobrevivência e da tradição. E, como tudo na cultura nordestina, a maré morta não é apenas um evento físico, mas uma metáfora poética sobre a vida.

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