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Meras incompatibilidades

Margô bebe todas, esquece almoço e viaja de cuca legal

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Levei tempo para aceitar meu nome, até que, já perto dos 30 anos, um homem se aproximou de mim em uma festa na casa de amigos. Assim que soube como me chamava, abriu um sorriso e disse:

— Lindo!

Na verdade, depois de alguns dias, fiquei na dúvida se ele se referiu ao meu nome ou, então, ao generoso decote que eu usava. Seja como for, já era tarde, pois logo estávamos perdidamente apaixonados um pelo outro.

De namorados, passamos a morar juntos alguns meses após, para desespero dos meus pais.

— Minha filha, por que não se casam?

Com o tempo, meu companheiro e eu fomos descobrindo certas diferenças, a maioria contornável. Uma delas é que ele adora filmes de ficção científica, enquanto sou apaixonada por terror. Mas não esses clássicos que nem “A profecia” e “O exorcista”. Curto trash. E levo muito a sério essa paixão.

Nesses momentos, fecho todas as cortinas, apago as luzes, aumento o volume e me sento no sofá com uma bacia com pipoca até a boca. Meu amado, nessas horas, costuma se sentar ao meu lado. O problema é que, não raro, ele solta umas risadinhas, o que me deixa muito irritada. Se não consegue entrar no clima, que vá para o quarto ou, então, que dê uma volta na rua.

A despeito de tal situação, há uma outra que eu até achava engraçado durante os primeiros meses de relacionamento. É que sou da noite, enquanto ele sempre se levanta antes dos primeiros raios. Não importa se seja sábado, domingo, feriado ou se estamos de férias. Lá está o sujeito de pé, como se, àquela hora da manhã, o mundo fosse a coisa mais linda.

Pois é, na semana passada, meu homem e eu fomos a um barzinho, onde encontramos alguns amigos. Enquanto tomei todas e mais algumas, o bonito, como sempre, ficou apenas na água com gás. O resultado foi que cheguei em casa nos seus braços. Mas eis que, no dia seguinte, antes das 11h, o dito cujo me cutuca.

— Margô, meu amor, acorda! Combinamos almoçar com seus pais.

— Julião, não amola! Ainda estou em outro planeta.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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