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Lúcio, o fumante inveterado

Maria nega o amor, até deitar em lençóis com cheiro de tabaco

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Não devia ter dez anos quando deu a primeira tragada. Escondido da avó, que havia esquecido o cigarro no cinzeiro. Tragou com tanta força, que teve uma crise de tosse. A velha, lá da cozinha, pensou que o menino estava doente por causa da friagem.

— Coloque as meias, Lúcio!

Já um pouco maior, o garoto criou coragem e pediu para o pai deixá-lo acender o cigarro. O homem achou graça e não viu motivo para negar tal desejo. Esse passou a ser um hábito, tanto é que Lúcio acendia não apenas o cigarro do pai, mas da mãe, dos tios e até da avó, de quem pegava dois ou três para fumar escondido.

Aos 15, Lúcio, cigarro entre os dedos, tragava sem cerimônia na frente de todos. Fumava na rua, na escola, no clube, até no ônibus, quando ainda não era proibido. Fumaça pela boca, fumaça pelas narinas, fumaça em lindas argolas que bailavam pelo ar.

Lúcio começou a trabalhar em uma repartição pública. Que felicidade! A fumaça se confundia com as pessoas. Cinzeiros espalhados por todo o ambiente, abarrotados de guimbas.

Foi no emprego que o rapaz conheceu Maria. Encantadora aos 28 anos e, ainda por cima, fumava com estilo. Piteira! Isso mesmo! Piteira! A mulher era a única que usava esse apetrecho para dar longas tragadas antes de soltar fumaças em aros tão perfeitos, que não teve jeito. Lúcio ficou completamente enlaçado pela colega.

— Não, Lúcio. Você é muito novo pra mim.

O rapaz, apesar de apaixonado, não insistiu. Melhor ficar próximo sofrendo a ser excluído do círculo de amizade da mulher. E foi o que fez. Tornaram-se até confidentes e, durante a comemoração de fim de ano, o grupo foi se despedindo, até sobrarem cinco ou seis. Maria e Lúcio, mais ao canto, sorriam futilidades, até que ela mexeu na carteira para pegar mais um cigarro.

— Posso acender pra você?

— Hum. Sabia que ninguém nunca acendeu um cigarro pra mim?

Não se sabe se foi por conta daquele gesto ou se a bebida contribuiu, Maria começou a olhar o colega com outros olhos. Tanto é que, naquele mesmo dia, os dois foram para um hotel ali perto, onde passaram a noite. Entre uma tragada e outra, aquelas vozes carregadas de alcatrão se amaram.

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