Maria Tereza conhecia as próprias fraquezas, mas precisava se fazer muralha diante dos filhos, especialmente do caçula.
— Acorda, Rubens, que não vou viver pra sempre!
— Mãe, tá cedo. Nem é meio-dia ainda.
— Olha, que vai acabar perdendo esse emprego que te arrumei.
— Relaxa, mãe!
— Quem relaxa é calça frouxa, Rubens!
Enquanto os irmãos mais velhos demonstravam resiliência que nem a mãe, Rubens, além de displicente, era frágil perante os percalços da vida. Tanto é que, naquele mesmo dia, o rapaz chegou mais uma vez atrasado ao emprego e, como previsto pela mãe, recebeu o temido bilhete azul.
Como desgraça pouca é bobagem, calhou da Soraia, namorada de longa data, apresentar o cartão vermelho para o gajo. Pobre Rubens, voltou para casa destroçado. Mas não antes de afogar as mágoas no boteco do Juca, famoso pelas cachaças de alambiques clandestinos.
Mal pisou em casa, Rubens se deparou com a genitora. Ela, que conhecia a cria de longe, adivinhou o motivo daquele olhar tristonho. Torceu os lábios, como só as mulheres sarcásticas e sábias sabem fazer.
— Ih, nem precisa falar. Já sei de tudo! Foi demitido.
— Sim.
— E precisa ficar com essa cara de cachorro de rua? Daqui a pouco, você arruma outro.
— É verdade.
— Tem mais coisa, né?
— …
— Desembucha, Rubens!
— A Soraia terminou comigo.
— Levanta a cabeça, meu filho. A gente tropica, mas não cai.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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