Isolda e os passarinhos
Mariana ouve da vó que terão dia maravilhoso
Publicado
emIsolda, assim que acordava, abria a janela do quarto e soltava os ouvidos para buscar os cantos dos pássaros. Sabia de cor as melodias do sabiá, que sempre pousava no parapeito da varanda. Peito estufado, o bicho bem sabia que era sucesso garantido aos olhos da mulher, que lhe lançava um beijo de fã apaixonada.
Colocava a água na chaleira, enquanto, atenta que era, abria aquele sorriso com o canoro som produzido pelo lindo canário-da-terra, que, não tardava, cobrava o seu quinhão de pão ali sobre a mesa da cozinha. Quem trabalha de graça é relógio. Tinha família para sustentar. E lá voava alegremente o amarelinho com o salário no bico.
A mulher, curiosa que nem sagui, logo percebia o curió devorando o alpiste no potinho especialmente preparado para ele. Vá com calma, meu amiguinho! Do contrário, vai acabar que nem cantor de ópera. O pássaro olhava para Isolda e, de pronto, dava dois giros no ar, como resposta para tamanha provocação. Em seguida, dava mais algumas bicadas no alpiste e saía cantarolando que nem Caruso.
Hora de sair com a Fifi, que já aparecia com a coleira na boca. O rabinho abanando que nem espanador. Isolda bebe o último gole de café. Já na calçada, a mulher percebe que um velho amigo pousa em seu ombro. É o coleirinha, que veio lhe contar um segredo ao pé do ouvido. Pode deixar, meu amigo, que não conto pra ninguém!
Aquela senhora, sentada naquela cadeira de balanço na varanda da casa da esquina, é a Isolda. O tempo voa. Voa mesmo! Tanto é que, perto de completar 90 anos, a velha recebeu a visita da Mariana, sua bisneta mais nova.
— Bisa, é verdade que a senhora conversa com os passarinhos?
— Sim, é verdade.
— E o que eles falam pra senhora?
— Mariana, hoje acordei com um bando de periquitos confabulando naquele cajueiro. Pelo que entendi da conversa, parece que o dia será maravilhoso.
Isolda, com a ajuda da menina, se levantou. As duas sorriram e, mãos dadas, foram dar uma volta pelo jardim.