Dito e feito
Marido da Dona Irene é o escritor favorito dela
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Não raro, alguém me pergunta se a Dona Irene é doida. É até estranho ouvir isso, pois doideira maior seria se ela não existisse. Na certa, o meu mundo se tornaria um tédio.
Após todos esses anos de convívio, fui praticamente arrancado da toca onde eu insistia em viver. Calma, que explico!
Sou escritor. Aliás, como a minha mulher insiste que eu diga: “Sou escritor!” Mas nem sempre foi assim tão fácil, pois há pessoas que imaginam que essa profissão está restrita a raros nomes, muitas vezes nem lidos, mas sempre mencionados. Talvez por conta disso ou algo que até hoje não consegui entender, tivemos o seguinte interlúdio:
— Edu, você precisa voltar a escrever.
— Não. Isso já passou.
— Óbvio que não!
Nisso, a Dona Irene me puxou pelo braço e me fez encarar a minha imagem refletida no amplo espelho da sala.
— Tá vendo esse cara aí?
— Sim.
— Pois bem! E você sabe quem é ele?
— Hum… Eu?
— Esse aí é o Eduardo Martínez!
— E daí?
— Daí que você está diante do meu escritor favorito! Então, é melhor você passar a tratá-lo muito bem a partir de hoje.
É engraçado como a minha esposa consegue ser tão persuasiva. Tanto é que, desde então, voltei a escrever após quase uma década de inatividade. Não sei se a Dona Irene havia percebido que a literatura faz parte da minha vida desde sempre ou, então, é algo que ela, hoje, adora falar toda vez que me apresenta aos seus amigos:
— Este é o Eduardo Martínez, meu escritor favorito. Ah, ele também é o meu marido.
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