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Carta ao amigo

Marilu escreve a Elias e deixa incógnita no ar

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Rio, 20 de março de 2024.

Querido Elias.

Poderia começar com desculpas pela demora na resposta da sua carta, mas melhores amigos não precisam dessa hipocrisia. A verdade é que ando exausta e, que nem aquela música do Raul Seixas, esperando a morte chegar. Mas eis que me lembro daqueles idos de 1973, quando ele teria comprado o tal Corcel do ano, e eu larguei o grande amor da minha vida e prossegui para Brasília neste casamento de fachada.

De domingo até ontem, fiquei só andando com o Marcos, passeando do hospital pra casa, de casa pro hospital. O intestino dele ficou preso de certa maneira, que precisou fazer uns procedimentos. O médico receitou mais fibras e água e, caso precise, de um laxante.

Estou esgotada! Cansada de tanto andar pelos corredores do hospital. Quanto ao Marcos, ou estava sentado na cadeira de rodas ou fazendo força no vaso. Graças a Deus e aos enemas, o Marcos conseguiu fazer o que ninguém poderia fazer por ele.

A velhice chegou, meu amigo. Creio que também deve ter chegado por aí, pois temos praticamente a mesma idade. Afinal, somente dois meses e quatro dias nos separam. O seu aniversário, aliás, é o único que consigo me lembrar. Nem os dos meus filhos, nem o do Marcos, que sempre reclama que foi esquecido. Quanto ao meu, só sei porque você me manda mensagem logo cedo.

Quando os filhos são pequenos, parece que a tristeza não tem lugar. Muita coisa para ser pensada, aliás, urgências cheias de prioridades. No entanto, quando eles batem asas pra fora do ninho e vão em busca dos próprios destinos, parece que a melancolia resolve dar as caras.

Hoje me arrependo de ter ficado tão acomodada. Fui covarde, eu sei. Todavia, agora é tarde ou, talvez, inapropriado tomar a atitude que deveria ter tomado em 1973. Seja como for, sinto que preciso continuar, apesar do cansaço que se abate sobre este meu corpo envelhecido.

Mas é isso, meu AMIGO ETERNO, estou na área, só que escondidinha.

Beijos da sua AMIGA ETERNA,

Maria Lúcia.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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