Começou nesta terça-feira o processo do ex-presidente da CBF José Maria Marin, que foi extraditado da Suíça para os Estados Unidos. Ele foi oficialmente acusado de fraude, conspiração e lavagem de dinheiro, com a possibilidade de ser condenado a 20 anos de prisão. Mas, por um acordo, deu US$ 15 milhões (R$ 57,88 milhões) em garantias e vai poder acompanhar o processo em prisão domiciliar. Marin já dormiu em casa nesta terça.
Marin se declarou inocente e sua esposa, Neusa Marin, teve de assinar documentos para garantir sua fiança. Seu apartamento na Quinta Avenida, em Nova York, avaliado em US$ 3,5 milhões (R$ 13,5 milhões), também foi confiscado como parte das garantias e ele teve de entregar mais US$ 1 milhão (R$ 3,85 milhões).
A primeira audiência durou poucos mais de 20 minutos e um novo encontro foi marcado para o dia 16 de dezembro. Abatido, Marin chegou a pedir para sentar e tomar água, o que fez o juiz o questionar se ele estava bem. Sua esposa, Neusa, tentava tranquiliza-lo.
Ambos assinaram as garantias e o juiz insistiu que, se Marin não cumprisse o acordo, o dinheiro seria confiscado. Ele apenas poderá sair de seu apartamento para ir ao advogado, médico, igreja e comprar comida, sempre com o sinal verde da Justiça.
Por um acordo, o ex-presidente da CBF ainda ficará proibido de manter qualquer tipo de contato com Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero até o fim do processo, o que pode levar anos. Em troca, poderá aguardar em prisão domiciliar. Ele também não poderá ter contatos com pessoas da Traffic e outras empresas envolvidas no escândalo.
Diante do juiz, Marin viu sua mulher pela primeira vez em meses. Ao final da audiência, se abraçaram de forma emocionada e longamente. Ele vestia um casado azul e calça preta. Ela, apenas uma roupa preta. Durante a audiência, Marin falou apenas quando declarou seu nome.
Horas antes, algemado e em classe econômica, ele embarcou em um voo desde Zurique, colocando um fim a mais de cinco meses de prisão na Suíça, desde 27 de maio. Ao chegar a Nova York, o brasileiro foi quase imediatamente levado à sua primeira audiência, com o juiz Raymond Dearie.
Um intérprete local foi convocado e Marin se declarou inocente. Mas terá de colaborar com a Justiça. Ele aceita, pelo acordo, “colaborar” com a investigação, além de ter colocado uma parte significativa de seus bens nas mãos da Justiça.
Por enquanto, Marin não tem obrigação de delatar ninguém. Mas a Justiça norte-americana garante que voltará a propor isso ao ex-dirigente. Um dos focos é o de traçar o envolvimento de Kleber Leite, proprietário da Klefer, empresa que mantém relações com a CBF, Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira com as irregularidades.
Blindagem – A viagem de Marin para os Estados Unidos foi blindada pelas autoridades suíças e norte-americanas. A extradição apenas foi anunciada quando o avião aterrissou em Nova York. Sua esposa sequer pôde ir ao aeroporto e ficou aguardando no apartamento do casal, em Manhattan. No avião, dois policiais norte-americanos o acompanharam.
O ex-presidente da CBF é acusado de ter recebido e compartilhado propinas para a Copa do Brasil e para várias edições da Copa América. Marin terá de pagar por todo privilégio que solicitar. Em seu apartamento, usará uma tornozeleira eletrônica e terá de contar com seguranças privados 24 horas por dia. Mas a empresa contratada para prestar o serviço cobrará pelo uso do dispositivo e será o brasileiro quem pagará por ela.
Marin foi o último entre os sete cartolas da Fifa presos em maio a ter seu caso avaliado pelos suíços. Foi a negociação para sua prisão domiciliar que acabou atrasando uma definição sobre o brasileiro que, em junho, havia entrado com recurso na Suíça para não ser extraditado. Enquanto isso, seus advogados se lançaram em um diálogo com o Departamento de Justiça para garantir que, em uma ida aos Estados Unidos, o ex-presidente da CBF receberia certos privilégios. Por isso seu processo levou mais de cinco meses.
Com todos os aspectos solucionados, a Justiça suíça então convocou Marin para uma audiência na terça-feira passada e o questionou se ele estaria disposto a ir voluntariamente aos Estados Unidos. A resposta foi “sim”.