Preço da democracia
Marina não arrega e expõe vassalagem de ambientalistas de conveniência
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emDemocracia para determinados setores da sociedade brasileira é quando eles falam e os demais abaixam a cabeça. Os “patriotas” de esquina frequentada por prostitutas de alta rotatividade pensam e agem desse modo. Em recente audiência na Comissão de Agricultura da Câmara, comandada e frequentada por nobres deputados e deputadas do PL, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi veemente criticada por alguns desses “patriotas” apenas porque não abaixou a cabeça para nenhum deles. De forma encomendada, a ministra recebeu reiteradas acusações de não saber gerenciar a evolução das queimadas.
É claro que, da mesma forma que tem conhecimento de quem deu a ordem para queimar o país, ela sabe como gerir o fogo dos vassalos do inimigo que não consegue engolir a derrota. Por conta das numerosas tentativas de rasteiras e de emparedamento, Marina se viu obrigada a transferir a cangalha e o arreio para quem de direito. Sua história no seringal e na defesa do ecossistema nacional, certamente ela tem muito mais conhecimento a respeito do ambiente do que os parlamentares acostumados a “papinhos de ambientalistas de conveniência”.
Tudo bem que temos de entender que vivemos em uma democracia, regime baseado principalmente na liberdade de expressão. O problema é que a vassalagem normalmente confunde liberdade de expressão com ofensas e agressões baratas e, repito, encomendadas. Foi o caso de uma deputada bolsonarista de Santa Catarina, cuja encomenda era indagar se a ministra era “capacho de ONGs”. Como quem fala o que quer, ouve o que não quer, Marina Silva respondeu à moça que capachos são aqueles que optam pelos discursos de encomenda somente para lacrar.
A carapuça foi na medida e, por isso, ficou o dito pelo não dito. Adestrados diariamente para reagir à coerência, inteligência, perspicácia e ao preparo de representantes do atual governo, os integrantes dessa e de todas as comissões que eles comandam devem achar que os convidados para audiências públicas são estultos como eles. Com Marina Silva foi diferente. Não tenho obrigação alguma de defender um governo com o qual discordo com frequência. No entanto, como sou um sujeito normal, não posso passar diante do ocorrido.
Para início, meio e fim de conversa, pediria para que os “patriotas” sem cabresto me apontassem quem do governo anterior e quem da Comissão de Agricultura da Câmara têm uma biografia ambientalista mais alentada do que a da ministra Marina Silva. Além da falta de consciência pública, o que poderia dizer àqueles que apoiaram (ou apoiam) os desvarios de alguns dos deputados que compõem a comissão é que, sinônimo de ciúme, ódio e dor de cotovelo, inveja realmente é uma merda. Às vezes, batem no liquidificador para descer melhor.
Educada até para responder a baderneiros, puxa-sacos e provocadores, Marina Silva também é corajosa e não arrega nem mesmo quando está em desvantagem numérica. É a vantagem natural da inteligência contra a excrescência. Dizer mais o que de um grupo de parlamentares que acha normal defender um projeto de lei para anistiar bandidos condenados por depredar bens públicos muito caros para os brasileiros de bem. É a democracia que nem todos sabem respeitar. É a liberdade de expressão e, principalmente, o preço a ser pago pela vontade soberana daqueles que escolhem os piores para representá-lo no Legislativo nacional.