Marina, tímida, trabalhava numa empresa média, com instalações não muito grandes, onde atuavam pessoas medianas, um chefe medíocre, mas que se sentia o último biscoito do pacote. Gilberto era o seu nome. Parecia aqueles tipos saídos diretamente da mente do Nelson Rodrigues. Não porque fosse esquisito, pois, ao contrário, era bem comum, talvez parecido com você, provavelmente igual a mim.
O chefe, simplesmente por ser chefe, naturalmente era bajulado por quase todos. Quase! Marina, até pela própria timidez, não ousava nem olhá-lo nos olhos, enquanto seus colegas soltavam sonoras gargalhadas, todas forçadas, quando Gilberto contava aquelas piadinhas que conhecemos há séculos. Todavia, lá estavam os companheiros de labuta da Marina, todos fazendo cara de surpresa pelo final surpreendente daquela mais nova anedota, sempre uma que aquele nosso tio inconveniente cisma em contar nos típicos churrascos de família.
Numa reunião de final de ano, quando todos já queriam ir embora, até mesmo aqueles maiores bajuladores do Gilberto, eis que este insiste em contar uma nova piada.
– Os amigos foram jogar bola e havia um monte de camisas com as numerações. Aí, um amigo joga a camisa 8 para outro e pergunta se ele gostava daquela. Então, o amigo pega, olha o número 8 e responde que só não gostaria se ela fosse três vezes maior. Entenderam? Três vezes maior! Vinte e quatro!
Todos na sala começam a rir forçosamente, menos a Marina. Esta, incomodada com a piada preconceituosa, não consegue conter a ânsia de vomitar algumas palavras e, encarando o seu chefe pela primeira vez, diz:
– Além de ser uma piadinha sem graça e homofóbica, há um erro grotesco de matemática. O número três vezes maior que o oito é o 32.