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Marinho, pobre de espírito, ataca Lula sem olhar o próprio umbigo

Brasília (DF) 13/07/2023 Comissão de Segurança Pública do Senado durante audiência para debater questões sobre as prisões ocorridas em 8 de janeiro. Senador, Rogério Marinho chorou durante seu discrso. Foto Lula Marques/ Agência Brasil.

Ao contrário do que acreditam os saudosistas do ex-presidente da ex-republiqueta de bananas, ninguém está acima da lei, nem mesmo mandatários sem currículo, pobres de espírito, com poderes de super-heróis dos quadrinhos, mas que, bizarramente, se imaginavam superiores até a seus ex-comandantes. Como a justiça divina, as leis brasileiras tardam, mas não falham. Apesar da máxima de Montesquieu, para quem qualquer povo defende mais os costumes do que a legislação, é comum os tiranos acabarem vítimas da fraqueza das leis que eles próprios corromperam. Enfim, o pior dos abusos é ouvir as tais viúvas suplicando a anulação de determinadas leis em favor de um único postulante, cuja trajetória é reconhecidamente indigna.

Um desses saudosistas é o senador Rogério Marinho (PL-RN), que, por exemplo, diz que o pacote da democracia encaminhado pelo governo Lula ao Congresso é paradoxal, pois ameaça direitos fundamentais do povo. Ele também critica a “escalada autoritária” do atual presidente contra a liberdade de expressão e a relativização dos direitos de cidadãos com visões diferentes do Estado, os quais, segundo ele, passarão a ser rotulados de “população extremista”. Interessante é que o mesmo parlamentar, quando ocupava um ministério de Jair Messias, jamais achou absurda, muito menos se insurgiu contrariamente à análise do antigo chefe sobre aqueles que tinham – e têm – ojeriza ao despotismo ou ao extremismo de direita.

Sua excelência deve lembrar que o simples fato de não ter votado no 17 significava a marginalização. Se anunciar de esquerda era a morte. Em resumo, os que preferiam a paz ao ódio eram considerados comunistas pelo mito paraguaio. Não sei se por medo de uma carraspana pública ou talvez preocupado em manter o cargo, mas, que eu saiba, jamais o senador se manifestou a favor dos direitos do povo que não se acamaradava com Bolsonaro. Se é que houve, o crime foi o mesmo: visão diferente do Estado comandado cabotinamente pelo capitão com patente de tenente de terceira. É a velha história das pessoas que adoram usar ferro para ferir, mas fogem do ferreiro como o Diabo da cruz.

Diria ao senador que discursar para moucos é fácil. Difícil é tentar explicar aos cerca de 203 milhões de brasileiros o que, no auge da disputa eleitoral e das queixas sem provas às urnas eletrônicas, fazia um conhecido meliante no Palácio da Alvorada. Hacker de casa de lenocínio sem alvará, o tal sujeito, na prática um falso vendedor de informações sigilosas, foi recebido pelo então presidente em horários chamados mortos. Levado pela deputada quase sem mandato Carla Zambelli (PL-SP), o Hacker de Araraquara foi contratado para dizer que o sistema eletrônico de votação é vulnerável. Não conseguiu, pois não é.

Consta que, a pedido da deputada, o elemento ainda forjou um pedido de prisão em desfavor do ministro Alexandre de Moraes. Embora só tenha vindo à tona agora, a folha corrida e a história do contratado para conspirar contra a democracia são tão antigas como o desejo dos patriotas em continuar se vitimizando, consequentemente tentando culpar o governo Lula de perseguição àqueles que, por absoluto amadorismo, não consumaram a intentona golpista. Resta aos que preferem a desinteligência tentar tramar contra os que pensam. Meu nobre senador, dizer que a separação dos poderes está em risco é uma estultice parlamentar. O senhor esqueceu ou não quer se lembrar da proposta golpista do líder que apoiava?

O levante que se desenhava não era apenas uma brincadeirinha do “menino” que um dia achou que o Brasil seria todo dele. Era para controlar tudo, inclusive os demais poderes. E o senhor estava fechado com ele. Ou não? Então, qual a democracia que o incomoda? Lembro que uma nunca existiu na cabeça do moço do 17 e, depois, do 22. A outra está sendo consolidada, mesmo incomodando pessoas que não conseguem viver em comunidades livres e verdadeiramente democratas. Ainda a respeito da separação dos poderes e sobre o “acabrunhamento de senadores sem condição de levantar a voz”, sugiro que, em primeiro lugar, eles aprendam o que é ser um senador. Depois, que procurem saber o que seus eleitores querem ouvir. Falar por falar tem o mesmo efeito de discursar para surdos, como o senhor tem feito.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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