A jornalista Eliane Cantanhêde, demitida há alguns dias da Folha de S.Paulo, está de volta ao cenário nacional, fazendo o que mais gosta: escrever reportagens polêmicas, picantes e intrigantes – que não é sinônimo de intrigas. A reestreia foi neste domingo pelas páginas do jornal O Estado de S.Paulo. A entrevistada foi a senadora petista Marta Suplicy (SP) que criticou o governo Dilma, se disse impossibilitada de disputar e exercer cargos para os quais está habilitada e contou que Lula, não apenas fez críticas a presidente, como também queria ser candidato na eleição de 2014..
Marta, que já foi deputada, prefeita e duas vezes ministra pelo PT, contou ao periódico que Lula criticou Dilma em um jantar organizado por ela com os 30 PIBs paulistas para discutir a ineficiente política econômica da presidente. “Eles fizeram muitas críticas à política econômica e ao jeito da presidente. E ele [Lula] não se fez de rogado, entrou nas críticas, disse que era isso mesmo. Naquele jeito do Lula, né? Quando o jantar acabou, todos estavam satisfeitíssimos com ele.
Segundo a petista, o ex-presidente estava incomodado com Dilma e queria ser candidato em 2014. Para impulsionar o o movimento “Volta, Lula”, Marta contou que organizou um encontro com políticos e artistas para que ele pudesse discutir uma possivel candidatura. De acordo com Marta, todos cancelaram a preença no evento, incluindo a presidente Dilma, Aloizio Mercadante. “Nessa época, ainda estava confuso quem seria o candidato. Tinha uma disputa. E, depois, quando ela virou candidatésima, ele não falava mais com ela (…) Ele é um grande estadista, mas não quis enfrentar a Dilma. Pode ser da personalidade dele não ir para um enfrentamento direto, ou porque achou que geraria uma tal disputa que os dois iriam perder.”
A senadora revelou que pensou sim em ser presidente e relembrou uma conversa que teve com Lula quando ele ocupava o mais alto cargo do Executivo. Na ocasião, o petista disse que sua sucessora seria uma mulher. “Pensei que ou seria eu, ou Marina (Silva) ou Dilma. Logo vi aquela história de ‘mãe do PAC’ e que era a Dilma. Pensei: ‘O que faço?’ Bom, ou ficava contra e não fazia coisa nenhuma, ou ajudava. Mais uma vez, decidi ajudar. Sempre achei que ia acabar ficando meio de fora das coisas, talvez pela origem, talvez por ser loura de olho azul, não sei.”
Marta disse que não foram “engendradas” as ações necessárias quando se percebeu o fracasso da política economica liderada por Dilma e que era preciso uma mudança na equipe econômica para que houvesse uma melhora no setor. Mas, segundo ela, a modificação não se concretizou poque ela “fortaleceria a candidatura do Lula”.
Quando perguntada se os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, poderiam pedir apoio do ex-presidente diante de dificuldades, ela respondeu: “O Lula está fora, totalmente de fora”.
De acordo com a senadora, Rui Falcão e Mercadante criaram um complô para que Lula não fosse escolhido o candidato para as eleições presidenciais de 2014. “O Rui traiu o partido e o projeto do PT, e o partido se acovardou ao recusar um debate sobre quem era melhor para o País, mesmo sabendo as limitações da Dilma. Já no primeiro dia, vimos um ministério cujo critério foi a exclusão de todos que eram próximos do Lula (…) Mercadante mente quando diz que Lula será o candidato [em 2018]. Ele é candidatíssimo e está operando nessa direção desde a campanha, quando houve um complô dele com Rui e João Santana (marqueteiro de Dilma) para barrar Lula.”
Sobre as irregularidades envolvendo a Petrobras, Marta defende que todo o conselho e a diretoria da estatal sejam trocados para que a empresa seja salva, e se diz estarrecida cada vez que lê o jornal e se depara com novas denúncias. “É esse o partido que ajudei a criar e fundar? Hoje, é um partido que sinto que não tenho mais nada a ver com suas estruturas. É um partido cada vez mais isolado, que luta pela manutenção no poder. E, se for analisar friamente, é um partido no qual estou há muito tempo alijada e cerceada, impossibilitada de disputar e exercer cargos para os quais estou habilitada.”
Marta não admitiu que deixará o PT, mas confirmou que foi convidada a integrar vários partidos, exceto o PSDB e o DEM.