Helena não era necessariamente a mais atraente, mas, aos 25 anos, possuía atrativos próprios da idade. Isso, aliás, foi mais do que suficiente para chamar a atenção de Ribamar, 43 anos, casado com Ruth, formosa aos 38 e, para tornar a história ainda mais atraente aos curiosos de plantão, prima de Helena. Prima de verdade e, pelo visto, sem qualquer consideração.
Dizem que aconteceu num encontro de família há quase dois anos. Todavia, de tantas versões sobre o ocorrido, digamos que foi no Natal, mas há quem afirme categoricamente que aconteceu na Páscoa. Independentemente da data, Ribamar esticou os olhos para o lado das coxas torneadas da Helena, que desfilava enfiada dentro de um vestido minúsculo. O que é bonito é para ser mostrado.
Enquanto Ruth, faca na mão, estava prestes a cortar o peru, que repousava morto sobre a enorme mesa, formou-se uma fila. Ribamar, demonstrando cavalheiro como ele só naquele dia, cedeu o lugar para Helena, que sorriu agradecida. Até aquele momento não eram íntimos, mas, talvez por conta do espírito natalino, conversaram amenidades e trocaram telefones.
O primeiro encontro daqueles dois aconteceu na cidade vizinha, Teresina, na residência da Martinha, que é tia de Ruth e de Helena. A dona da casa, passada dos 80 anos, fingiu-se de sonsa, pois, parece, estava acostumada com aquelas coisas na família. Não se sabe ao certo se a velha tapou os ouvidos ou, então, uma providencial surdez a acometeu enquanto Helena e Ribamar se conheciam debaixo dos lençóis no quarto ao lado.
Depois de prosearem por horas, a fome se fazia presente no estômago dos enamorados. Todavia, Martinha, boa anfitriã que é até hoje, já havia preparado alguns mimos em formato de cuscuz, queijo, presunto e suco de caju. Se o casal quisesse, havia também aquele bolo de fubá que já estava saindo do forno.
Agradecidos pela hospedagem, Helena e Ribamar se despediam da anfitriã e voltavam para Caxias antes que alguém desse por falta daqueles dois. Uma desculpa aqui, outra ali, as coisas pareciam se ajeitar, até que Ruth começou a desconfiar da pouca disposição do marido. Como é que pode? Algo estava errado, pois Ribamar, apesar de quase 20 anos de casado, comparecia pelo menos três vezes por semana.
Cabreira como ela só, Ruth fingiu-se de boba por alguns dias, até que resolveu seguir o gajo. Por mais de uma vez, perdeu o marido de vista, até que, numa quarta-feira, repleta de desalento pela situação, buscou conselho justamente da Martinha. Encontrou a tia tomando chá de ervas, enquanto sobre a mesa repousavam algumas iguarias.
Martinha, atriz das boas, acolheu a sobrinha com um abraço. As duas se sentaram, enquanto Ruth começou a expor suas preocupações em relação ao marido. A tia apenas observava, enquanto continuava bebericando o chá. Ficaram ali por quase duas horas, até que Ruth, percebendo que já havia falado demais, disse que precisava voltar para casa, antes que o marido chegasse.
Porta aberta, tia e sobrinha trocaram beijos, mas eis que um gemido agudo chegou aos ouvidos das duas. Ruth olhou para Martinha, que tentou apressar a despedida, mas a sobrinha não se convenceu, ainda mais porque escutou outro gemido, agora mais grave, vindo detrás da porta do quarto.
— É o gato.
— Gato? Que gato? Até onde sei, a senhora nunca gostou de gato, tia.
Sem forças para impedir a sobrinha, Martinha viu Ruth abrir a porta e tomar aquele susto. A confusão se armou e só não aconteceu morte porque a velha, já prevendo o pior, mantinha todas as facas devidamente escondidas. Helena, apesar da surra e da humilhação de fugir pelada pela rua, sobreviveu.
Quanto ao Ribamar, recebeu passivamente alguns tabefes na cara. Sem argumentos ou desculpas para inventar, calou-se até que, quase um mês após o ocorrido, foi aceito de volta pela esposa. O casal, aliás, costuma frequentar semanalmente a casa da Martinha. Afinal, a velha, além de excelente anfitriã, sabe preparar ótimos quitutes para corpos que precisam recompor as energias.