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Estupidez prematura

Máscara salva-vidas é abolida por bajuladores do mito

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Mesmo que não queiramos e ainda que sejamos rebeldes em relação aos ensinamentos divinos, o tempo precisa dar um tempo para nós. E que seja rápido, bem antes que surja uma nova calamidade sanitária. Passados dois anos de uma pandemia jamais imaginada e que infectou 29,4 milhões de brasileiros (mais de 10% da população), dos quais 656 mil morreram, até hoje multidões fanatizadas por fundamentalistas maluquetes tratam o vírus com um “gripezinha” gerada em laboratório. Esse mesmo povo não se cansa de creditar aos chineses a “criação” do maldito bichinho que parou o mundo, derrubou economias consolidadas e transformou espaços esverdeados da Europa em cinzentos e sinistros cemitérios.

Não tenho informações concretas sobre onde encontrá-lo, mas é fato que o parasita da Covid-19 ainda está no ar. Mesmo assim, para prazer do capitão presidente e de seus mais ideologizados seguidores, governadores bolsonaristas com registro em cartório decidiram pelo fim da máscara facial, pedacinho de pano que, aliado ao distanciamento social, certamente evitou que muitos de nós fossem transformados em números. Embora sua utilização tenha evitado o contágio e a consequente morte de centenas, milhares de pessoas por conta da doença, acabou a tirania da máscara, transformada na principal vilã do período.

Não tenho vocação médica, mas aprendi a respeitar a ciência e a pesquisa como primeiros, segundos e terceiros passos para a saúde e bem estar de qualquer povo. Por isso, assino embaixo de recente boletim da Fiocruz, cuja tese é tão simplória como a ignorância dos que teimam em negar a Covid. “Flexibilizar estupidamente medidas como o distanciamento ou o abandono do uso de máscara de forma irrestrita colabora para um possível aumento do vírus, e não nos protege de uma nova onda”. De acordo com informações da revista Lancet para as Américas, a taxa de mortalidade por Covid dobrou em cidades bozolíticas. Portanto, é uma irresponsabilidade de governantes bajuladores do mito abolir prematuramente o uso da máscara em locais fechados.

Pior de tudo é que a mutação da ômicron avança na Europa e cientistas temem alta no Brasil. Pelo visto, azar o nosso. Modelo na formação de profissionais, descobertas científicas, produção de vacinas e medicamentos, a Fiocruz elaborou um estudo por meio do qual fica evidente a importância de garantir que as medidas de relaxamento sejam adotadas em tempo oportuno, “sob risco de retrocesso nos ganhos obtidos no arrefecimento da pandemia”. Baseados em longas observações, os dados sugerem que o uso de máscara deve ser mantido por duas a dez semanas após a meta de cobertura vacinal com três doses (entre 70% e 90%) ser atingida. Reconhecendo o destrambelhado puxa-saquismo, difícil é convencer os governadores do Rio de Janeiro e do Distrito Federal sobre o risco a que permanecemos expostos.

Apesar de o esquema de duas doses se encontrar em um patamar de 73%, infelizmente a dose de reforço só conseguiu atingir até o momento 31,2% da população elegível, isto é, adultos acima de 18 anos. Obviamente que não estamos livres de novas variantes. Considerando a velha máxima de que caldo de galinha e cautela não fazem mal a ninguém, continuarei usando e estimulando o uso do acessório facial. Além de servir de disfarce para minha feiura, ele (o acessório) continuará ajudando no combate à doença. Afinal, desnecessário diploma universitário para saber que a vacinação por si só não é suficiente para controla a pandemia. É fundamental que se mantenha um conjunto de medidas capazes de minimizar o mal até que estejamos todos imunizados.

E não ainda esperar nenhuma sinalização diferente desses governadores, muito menos do principal ocupante do Palácio do Planalto. Dois anos de pandemia e jamais vi um gesto de carinho ou uma palavra de conforto do presidente da República com as famílias das 656 mil vítimas fatais da “gripezinha” sem importância que, repito, assolou o planeta, paralisou a economia mundial e isolou o Brasil do restante da terra. Dos pontos de vistas econômico e estratégico, continuamos importantes para os dirigentes das principais potências, mas, por conta do nosso exagerado negacionismo, sanitária e politicamente somos medonhos e absolutamente peçonhentos para boa parte desses líderes. Seja quem for o próximo mandatário, não há dúvida de que chegará o dia em que sofreremos alguma consequência. Se estivermos vivos, é claro.

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