Bateu, levou
Mastigador de mentiras, Xandão não engole nada e atira no pé do Pinóquio

Com seu estilo tosco, colérico, grosseiro, afrontoso e indelicado, o ex-presidente Jair Bolsonaro continua na contramão do que o país inteiro está vendo e vivendo, inclusive os seus. Embora, esteja no seu direito constitucional e democrático de se manifestar onde e como bem entender, o agora réu Bolsonaro deveria ser proibido por seus pares, seguidores e baba ovos de falar publicamente. A cada bobajada despejada para seu público, mais ele se enrola judicial e politicamente. Diante de todas as evidências contrárias a seu velho, cansativo e abobalhado discurso, o incômodo líder do aglomerado chamado PL não se contém e continua soltando mentiras a torto e a direita. Ou seria à esquerda.
Me causa espécie o fato de a raivosa e aparentemente atenta tropa de choque do bolsonarismo não se tocar e, mesmo à força, trabalhar para tentar calá-lo. Nessa quarta-feira (26), logo após a Primeira Turma do STF ter aceito a denúncia da PGR sobre uma suposta trama golpista, Bolsonaro se dirigiu ao Senado Federal, onde, escoltado por um amontoado de apalermados deputados e senadores da bancada bolsonarista, despejou falação questionando novamente a vitória de Luiz Inácio da Silva, atacando o sistema eleitoral, a urna eletrônica e, principalmente, atirando na direção do Supremo Tribunal.
É claro que ele está no papel de quem se encontra acuado, mas alguém precisa cochichar no ouvido do candidato derrotado em 2022 que renovar mentiras nessa altura do julgamento é mais temerário do que benéfico. Jair Bolsonaro tem de saber que desinformar não é sinônimo de se defender. Pelo contrário. Se a ideia é atingir Alexandre de Moraes para, no andamento do processo, tentar desqualificar o relatório e voto do ministro, tudo indica que o tiro deverá atingir seu próprio pé. Afinal, macaco velho, Moraes é daqueles que mastiga as mentiras, mas não as engole. Em síntese, por mais que digam e que pensem, a gritaria objetivando atingir o relator do processo terá efeito inversamente proporcional aos gritos.
É o mesmo que bater e levar. As numerosas e pesadas acusações direcionadas ao ex-presidente que já se achou mito não são infundadas. Tudo bem que o 1º. de abril está próximo. A data não o credencia a insistir em apelar para mentiras que, como todos sabem, nunca foram verdades. Diz o ditado que quem muito jura, muito mente. Por exemplo, afirmar que imprimiu a minuta do golpe só para conhecimento é passar recibo acerca do desconhecimento sobre o conteúdo do conteúdo. Para o ministro Alexandre de Moraes, obviamente que Bolsonaro sabia o que continha na minuta. Nem os leigos em temas conspiratórios acreditam na pífia narrativa do acusado.
Para os ministros da Primeira Turma do STF e para a maioria do povo brasileiro, incluindo os formadores de opinião, não há dúvida de que a trama golpista foi criminosa. O choro e o esperneio são livres. No sentido oposto, a Justiça, além de severa, jamais é cega quando o que está posto pode ser visto até mesmo por deficientes visuais congênitos. Aliás, cego é aquele que não quer ver. Parece o caso de Jair Messias, que deveria entender de uma vez por todas que contra fatos e evidências não há argumento capaz de minimizá-los ou desqualificar qualquer indicativo de condenação. Voltar a creditar sua derrota à Justiça Eleitoral, particularmente à maquininha de votar, é mais do mesmo.
Na verdade, é insistir em jogar entulho em terreno que os advogados de defesa já haviam aparado e replantado grama. Repito que Bolsonaro tem o direito de falar o que quiser para quem bem entender e onde achar mais prudente. O que não pode é ser mais imprudente do que foi desde que assumiu a Presidência da República, em janeiro de 2019. O ideal para aquele que se encontra à beira do precipício é falar pouco. Se não consegue, que lhe cortem a língua, sob pena de o efeito do toque de recolher ser sentido bem antes do prazo imaginado pelos que defendem o contador de mentiras. Defendem, mas sabem que o fim é logo ali. Qual será o caminho? Dividir loucuras com Javier Milei ou virar aspone de Donald Trump? Aguardemos os próximos capítulos.
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Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras
