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Além das teorias

Maternidade sem culpa. Não existe manual para criar filhos

Publicado

Autor/Imagem:
Dany Santos

Este texto não é nenhuma tentativa de discorrer sobre teorias maternas. Este texto vem daqui de dentro, do coração, e nasceu quando eu percebi que muita gente está presa a tantas teorias que não consegue de fato vivenciar a maternidade de forma simples e com liberdade.

A maternidade não é uma prisão. Pelo contrário! Ela liberta e faz fluir os melhores sentimentos que há em nós. A maternidade cura, fortalece e nos faz amadurecer, e amadurecer significa examinar com olhos críticos tudo o que lemos e ouvimos. Vou contar alguns causos que talvez ajudem a esclarecer este texto.

Comida amassada de mãe – Outro dia uma mãe estava morrendo de culpa porque, durante as refeições da criança, ela dava colheradas de comida amassada. Essa mãe segue o BLW, um método novo e maravilhoso que permite que a criança descubra sozinha cada alimento e toque na comida, coma alimentos inteiros e, assim, aprenda o que significa se alimentar.

Fiquei tão preocupada com aquela mãe presa a um método e sem liberdade nenhuma… Eu defendo a maternidade consciente, e é exatamente por acreditar nisso que acho que a pessoa deve tomar suas decisões baseada no que sente respeitando, claro, o bem-estar da criança.

Mas, veja, a mãe estava preocupada em dar uma colher com uma comida saudável só porque estava amassada! Não era nenhum lanche de uma rede de fast-food. Era uma comidinha deliciosa, feita em casa, com temperinhos caseiros. Foi aí, acho, que acendeu uma luzinha aqui.

É claro que queremos o melhor, o mais saudável, o que há de novo, mas não podemos deixar essas teorias arrancarem de nós o que há de mais primitivo: o instinto.

Se ela acha que pra suprir as necessidades nutricionais da filha, ela precisa oferecer alguma comida na colher, que assim seja! Precisamos simplificar as coisas ao invés de complicar mais. A maternidade já é tão solitária para tantas mulheres que eu me pergunto por que complicar ainda mais.

Fraldas de pano no filho – Uma outra história é de uma mãe que, como eu, usa fraldas de pano na criança. Ela ia passar as férias com a família na fazenda de uns familiares. Todo mundo foi contra o uso de fraldas de pano no início, alegando que não daria certo. Ela conseguiu se adaptar às fraldas e as usa no filho diariamente com sucesso. O problema é que ela nunca tinha viajado até então.

O que estava corroendo aquela mãe por dentro era o fato de ter que usar fralda descartável na frente desses familiares durante a viagem como se ela tivesse que provar alguma coisa pra alguém. Eu sei que é super possível viajar e usar fraldas de pano, mas EU pessoalmente não quero, não tô a fim e nem com disposição. Foi o que eu disse a ela; que quando eu viajo, não uso fraldas de pano e tá tudo bem.

Nós não precisamos provar nada pra ninguém. A gente precisa dar conta daquilo que é bom pros nossos filhos e nos traz tranquilidade. Maternar é uma luta insana diária. Não precisamos tornar as coisas mais difíceis sempre.

Cama compartilhada entre mãe e filhos – Esta última história é de uma mãe com dúvida sobre cama compartilhada. Sua filha, desde que chegou em casa, dorme com ela em sua cama, o que facilitou demais a amamentação e a ajudou a descansar um pouco mais já que não precisava levantar-se e ir até o berço várias vezes à noite.

Só que agora, a menina dorme a noite toda e já está grandona. A mãe dorme numa posição ruim por conta da cama pequena e acorda um bagaço. Um dia, essa mãe botou a menina no berço e a pequena dormiu a noite toda tranquilamente. A mãe, na manhã seguinte, acordou ótima, sem dor nas costas, mas cheia de culpa. Será que ela tinha abandonado a filha? Será que a menina teria problemas emocionais mais tarde porque dormia longe da mãe? Eram suas dúvidas!

Respondi a ela que sou a favor da cama compartilhada, tanto que faço até hoje porque Artur acorda muito pra mamar, e eu não tenho condições de levantar tanto na madrugada, mas se ele dormisse a noite toda muito bem em seu berço, eu não teria dúvida em colocá-lo lá! O berço ficaria no meu quarto pra qualquer emergência, mas certamente eu dormiria belíssima na minha cama, que ficaria espaçosa.

Vejam! A menina estava bem, provavelmente dormiu até melhor por conta do espaço, a mãe acordou ótima e as duas estavam felizes, mas o problema era a gaiola, a prisão das teorias. A gente precisa saber a hora de voar, se soltar, de desapegar. Há momentos que, se deixarmos a linha solta, a pipa voa mais alto, com mais leveza, num voo distante e libertador. Precisamos soltar as amarras das teorias.

Pra finalizar, eu quero deixar claro que defendo o parto humanizado, que uso fraldas de pano, que sou a favor da criação com apego, que considero a amamentação fundamental, que estudo sobre maternidade, sim, mas que eu vivo verdadeiramente e olho nos olhos dos meus filhos pra enxergar suas reais necessidades todos os dias.

Isso significa que o dia que meu filho estava doente, sem comer nada, eu fiz uma sopinha deliciosa e bati no liquidificador pra descer melhor. Isso não é regra aqui e eu sei que, pro bem dele, não devo fazer isso todo dia – e não faço. Mas quando precisamos, quando eu senti que precisava fazer isso, fiz. Fiz seguindo meu coração. E foi o melhor pra ele naquele momento. Melhor pra ele e libertador pra mim.

Vamos ler as teorias? Claro. Vamos ler tantos blogs maravilhosos que temos por aí sobre maternidade? Com certeza. Vamos tentar fazer o melhor sempre? Óbvio.

Mas vamos também olhar pros nossos filhos de verdade e vamos ler tudo de forma crítica. Que a gente não deixe nenhuma teoria nos cegar. Porque, se aceitarmos tudo o que lemos, deixamos de praticar a maternidade consciente que tanto defendemos e passamos a seguir a boiada que tanto criticamos.

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