Notibras

Matuto confessa causo no mato que até Deus duvida

Lá estava aquele matuto contando mais um desses causos que, por coincidências da vida, parecem acontecer somente em Minas Gerais. No entanto, Natalino era de Luziânia, bem coladinho ao Distrito Federal.

Diante de tais histórias quase impossíveis, o homem acabou angariando alguns desafetos, que o chamavam de mentiroso. Já os amigos, por mais que também duvidassem daquelas incongruências com a verdade, cismavam em defendê-lo.

A intriga estava tão grande, que o padre resolveu chamá-lo para uma confissão que, não se sabe como, acabou virando mais um causo. O loroteiro de um lado do confessionário; o padre, do outro.

Natalino disse que havia sido perseguido por um homem de três metros de altura. O grandalhão estava com um facão maior do que uma pessoa de estatura média. Enquanto corria, Natalino acabou tropeçando em um tronco e caiu. Na verdade, segundo o contator de causos, o tronco era uma cobra.

Como estava escuro, o grandalhão não percebeu que Natalino se esgueirou para o meio do capim alto. Ele tentou não se mexer, ficou com um olho no facão e o outro na serpente.

— Seu padre, mas eu juro que é verdade!

— Mas como pode isso, meu filho?

— Pois bem. Lá estava eu naquele mundaréu sem fim, o capim dessa altura. De repente, aquele homem me achou e sorriu aquele sorriso maligno. Ele ergueu o facão pra mim e já ia me cortar em pedacinhos. Mas aí, graças ao nosso bom Jesus Cristo, a cobra picou o dedinho do pé do homem. A botina dele tinha um furinho justamente ali. Por sorte minha, o bandido caiu durinho na hora!

— Meu filho, e que cobra era?

— Ah, isso eu não sei não. Mas que a bicha tinha três tipos de veneno, ah, isso tinha!

— E cadê o corpo do homem que ninguém viu, Natalino?

— E não é que apareceu uma onça e comeu o mardito inteirinho?

— Até os ossos?

— Pro senhô vê! Inté os ossos!

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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