O novo coronavírus prepara um quadro devastador para o Brasil em abril. Não será surpresa para especialistas em saúde pública, que no final do mês tenham sido contabilizadas 100 mil mortes. A projeção é do médico libanês Ali Mokdad, professor do Instituto de Métricas de Saúde e Avaliação da Universidade de Washington, Com certeza, diz ele, serão dias mais mortíferos que março, quando as mortes passaram de 66 mil.
Esse quadro negro, diz Mokdad, é consequência do relaxamento das medidas preventivas a partir do final de 2020. Mas, observa, tanto a população quanto os governos podem, com ações e medidas preventivas a partir de agora, evitar que novos picos devastadores do coronavírus ressurjam durante o inverno.
Em entrevista à BBC News, o médico sublinhou que “o que aconteceu no país foi um relaxamento nas medidas de distanciamento social: o governo não colocou medidas em vigor a tempo, e as pessoas relaxaram, voltaram à vida normal, como se não houvesse covid-19. A nova variante fez com que as infecções ocorressem mesmo em comunidades onde 60% ou 70% das pessoas já haviam sido infectadas”, diz Mokdad.
No cenário mais provável, levando-se em conta uso de máscaras pela população, mobilidade social e ritmo da vacinação, o instituto americano estima que o Brasil vai contabilizar um total de 562,8 mil mortes até 30 de junho. No pior dos cenários estimados pelo IHME, esse total pode chegar a 597,8 mil mortes.
Esperamos que os casos (de coronavírus no Brasil) comecem a cair nesta semana. (Mas) o pior ainda está por vir, porque as mortes demoram mais – elas continuarão a subir e só cairão depois de algumas semanas”, diz Mokdad.
“Além disso, o que é muito preocupante no caso do Brasil é que o surto ocorreu durante o verão, e, se tratando de um vírus sazonal, se fizermos uma projeção de longo prazo, pode ocorrer uma nova alta no inverno de vocês. É isso que nos preocupa.”
“Esperamos que a mortalidade caia na terceira semana de abril, até o começo do inverno, quando os casos e mortes vão subir – mas não tanto quanto agora, porque haverá mais pessoas vacinadas do que agora”, prevê Ali Mokdad.
Mas a situação do inverno pode ser agravada caso abra-se brecha para o surgimento de mais novas variantes perigosas – que emergem em áreas onde o vírus consegue circular livremente.
“Vocês (brasileiros) ainda terão um abril terrível e potencialmente também um terrível inverno, caso haja uma nova variante que torne a vacina menos eficiente”, prossegue Mokdad.
“Temos de ser muito cuidadosos. Será preciso conter as infecções e as variantes, para ter um inverno mais ameno e um próximo verão de celebração.”
O inverno preocupa os infectologistas porque a estação mais seca e fria, com menos ventilação dos ambientes, traz condições ainda mais propícias para a circulação do coronavírus.
“O vírus é sazonal. No inverno passado, se pensarmos na Argentina, que tinha medidas rígidas em vigor e uso de máscara na casa dos 90%, mesmo assim a infecção cresceu”, explica o médico.
“Isso significa que infecções prévias não oferecem boa imunidade contra essa nova variante. Pessoas infectadas antes podem se infectar de novo. E isso significa também que as vacinas não serão tão eficientes, o que também preocupa.”