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Médicos sugerem esforço global para distribuir repelente durante Olimpíada do Rio

Um grupo internacional de especialistas em saúde pública afirma que a Olimpíada do Rio de Janeiro requer medidas especiais, como uma força-tarefa global para produzir e distribuir repelente antimosquito, mas não menciona o cancelamento do evento como medida necessária.

Em artigo na revista médica “The Lancet”, uma das mais prestigiadas do mundo na área, os sanitaristas sugerem também um esquema especial para educar turistas sobre o Aedes aegyptie promover medidas de proteção.

Na visão do grupo — que inclui especialistas dos EUA, China, Arábia Saudita e Peru — não só trabalhadores do setor de saúde deverão se envolver. Agentes de viagem, funcionários de empresas aéreas e até líderes de equipes esportivas devem receber treinamento para passar informação correta a turistas e atletas.

“Métodos para prevenção de picada de mosquito poderiam ser fornecidos a cada viajante no portão de desembarque antes do controle de imigração”, escrevem os pesquisadores em artigo publicado neste domingo (7). “Como o Brasil está enfrentando a diminuição nos estoques de repelentes de insetos, esforços globais serão necessários para adquiri-los e distribui-los em quantidade adequada.”

O grupo que assina o artigo é liderado pelo saudita Habida Elachola, que trabalha nos esforços para conter a disseminação de epidemias durante o Hajj, a peregrinação anual de muçulmanos a Meca. Segundo ele e seus colegas, o evento religioso será o segundo maior desafio do ano para conter o espalhamento do zika, depois das Olimpíadas.

Conexão Rio-Meca
O fato de os Jogos Olímpicos serem realizados durante o inverno é considerado um alento, mas não uma garantia de que o Rio — com previsão de receber 1 milhão de estrangeiros — não será um exportador de casos.

“Apesar de as temperaturas do inverno significarem que a densidade populacional do mosquito deve ser baixa no Brasil na época das Olimpíadas, dada a densidade de mosquitos no verão do hemisfério Norte, incluindo na Arábia Saudita, a introdução de poucas infecções à população de mosquitos pode ser suficiente para causar surtos de vírus da zika em outros países”, afirma.

As peregrinações muçulmanas devem levar 7 milhões de pessoas à Arábia Saudita, dizem os pesquisadores, das quais 7.000 seriam provenientes da América Latina, onde o vírus da zika já se instalou.

Segundo os pesquisadores, não há motivo para pânico nem no Rio nem em Meca, e experiências anteriores na própria Arábia Saudita mostram que é possível manejar a situação.

“A preparação tem sido a chave do sucesso do Hajj reunindo recentemente multidões sob riscos conhecidos, como os surtos pandêmicos de gripe aviária, síndrome respiratória do Oriente Médio e ebola.”

‘Humilhação internacional’
O vírus da zika também foi tema de uma carta do editor-chefe do “Lancet”, Richard Horton, segundo quem os planos de protagonismo do Brasil podem ser abalados pela epidemia.

Ele afirma que o país tem atravancado a pauta da OMS (Organização Mundial da Saúde) por razões econômicas. Diplomatas estariam questionando que o Brasil seja considerado um paíse de renda média no contexto regional, enquanto Argentina e Venezuela já atingiram o status de renda alta.

“Durante o encontro do painel-executivo da OMS no mês passado, uma autoridade de Genebra me disse que a delegação do país estava se recusando a apoirar resoluções que de outra forma teria aprovado porque o Ministério das Relações Exteriores Brasileiro questiona os rankings de países do Banco Mundial.”

Segundo ele, quando a OMS declarou a zika uma emergência internacional de saúde pública, o Brasil acolheu a notícia “não apenas como uma tragédia nacional mas também como humilhação internacional”.

Segundo Horton, a crise sanitária pode gerar demanda para as transformações necessárias ao controle da disseminação do Aedes aegypti, mas é preciso saber aproveitar oportunidades e o momento em que médicos e funcionários de saúde ganham mais voz. A histório mostra que “epidemias mudam governos”, afirma o médico, e “epidemias mudam o público”.

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