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Meio ambiente não pode depender da boa vontade dos nossos governantes

Criar um mundo alimentado por energia limpa, o que poderá salvar todos nós de uma catástrofe ambiental, é o principal desafio do nosso tempo e requer uma mudança radical em nossas economias.

Não podemos esperar sentados por nossos governantes: se não houver pressão popular, eles nunca irão longe o suficiente ou agirão rápido o suficiente. Quem começa uma revolução são as pessoas, não os políticos.

Para sobreviver ao século 21, precisamos redescobrir o sentimento de solidariedade e propósito comum que foi o motor das revoluções ao longo da história. E, com isso, criar um movimento de massa que abra mais os olhos dos políticos, aumentando sua compreensão do que é possível. Precisamos estar à frente, não atrás, e trazê-los conosco.

Nos últimos anos, enquanto o abismo entre as evidências científicas e as ações tomadas pelos governantes se tornava ainda maior, o ceticismo em torno das mudanças climáticas impregnou a sociedade civil. Para combater esse efeito, diversas organizações apostaram alto no potencial da sociedade e convocaram a maior mobilização contra as mudanças climáticas da história para trazer o debate à tona novamente.

E a ideia funcionou completamente. A mobilização mundial pelo clima em setembro do ano passado foi, sem sombra de dúvidas, um divisor de águas. Quase 700 mil pessoas foram às ruas: de longe, a maior mobilização contra as mudanças climáticas já realizada.

As marchas foram cheias de esperança, positividade e incluíram pessoas das mais variadas origens. Surpreendentemente, em todo o mundo, nenhuma pessoa foi presa. Milhares de organizações, incluindo ambientalistas, religiosos e sindicatos, uniram-se para mostrar que as mudanças climáticas não são mais uma questão que interessa apenas a quem é “verde”, mas um problema de todos nós.

O impacto político foi concreto. Dezenas de ministros e políticos de alto escalão se uniram à marcha, assim como o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Pude ver em seus rostos perplexos com a multidão: eles sabiam estar presenciando história. Durante a Cúpula da ONU no dia seguinte, a marcha foi citada por vários políticos, que aproveitaram para manifestar a vontade por metas mais ambiciosas de redução de emissões de carbono.

Nos meses seguintes, ouvimos de especialistas que a Europa não adotaria de jeito nenhum a meta de “pelo menos 40%” de redução das emissões de gás carbônico até 2030. Mas após campanhas contínuas e por meio da iniciativa de alguns dos ministros que participaram da marcha, o acordo foi alcançado. Então, os EUA e a China vieram a público e divulgaram metas surpreendentemente ambiciosas para reduzir suas emissões.

A China se comprometeu a reduzir suas emissões a partir de 2030, um grande passo. O bom momento político perdurou: um movimento global que pedia a retirada de investimentos em combustíveis fósseis pressionou a indústria, grandes corporações começaram a adotar a energia limpa e o papa Francisco usou sua credibilidade a favor da questão. O movimento floresceu e novas mobilizações diretas ressaltaram a urgência do assunto.

A Cúpula do Clima de Paris, em dezembro deste ano, será a maior conferência do mundo sobre o clima nesta década. As negociações em nível global e nacional funcionam de maneira coordenada, influenciando a elevação ou redução das metas de emissão.

Precisamos fazer de Paris o momento em que conquistamos o debate político e o tornamos ainda maior. Uma maneira eficiente de fazer isso seria se o mundo inteiro, pela primeira vez, chegar a um acordo acerca de uma economia global “descarbonizada” e que funcione com energia limpa.

Isso enviaria de imediato um sinal aos investidores – tanto aqueles que investem em energia limpa quanto os que investem em energias poluentes – de todas as partes do planeta e aceleraria o processo de transição que já está acontecendo.

A esperança está ganhando força e o momento é ideal. Mas já estivemos nessa situação antes. Tanto na Cúpula da Terra em 1992 quanto na criação do Protocolo de Kyoto em 1997, o mundo inteiro deu passos à frente, mas foi terrivelmente golpeado pela politicagem tóxica dos lobistas da indústria de petróleo e seus “estudos científicos” falsos, que ajudam a fortalecer o ceticismo sobre as mudanças climáticas

A cada vez em que isso acontece, aumenta a distância entre o que tem sido feito e o que precisamos fazer para sobreviver. Precisamos de um movimento duradouro, que seja capaz de vencer e continuar vencendo, agora e nas décadas futuras.

É por isso que no 29 de novembro, um dia antes de os líderes mundiais chegarem a Paris, as pessoas irão às ruas de todo o mundo para a Marcha Mundial do Clima para quebrar o recorde, estabelecido no ano passado, de maior mobilização da história da humanidade contra as mudanças climáticas.

Em milhares de cidades ao redor do planeta, nos reuniremos ou marcharemos por nossas comunidades e por aquelas que já sofrem os efeitos dessas mudanças. Iremos às ruas pelo futuro dos nossos filhos e netos, e por um mundo mais seguro e com energia limpa. Mostraremos aos políticos que chegamos para ficar e estamos crescendo. E inspiraremos outras pessoas a se unirem ao movimento, no qual não há discriminação e não é preciso pedir licença.

Todos estão convidados não apenas a participar, mas também a organizar suas mobilizações e assumir uma posição de liderança. Porque para uma revolução que transforme tudo, precisamos de todos. No dia 29 de novembro, marcharemos!

Ricken Patel

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