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Embargo auricular

Memes do carnaval fora de época chegarão ao Reino Unido

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Mathuzalém Júnior* - Foto Clauber Cleber Caetano

Desde os primeiros passos na língua portuguesa, aprendi com alguns mestres que, mais importante do que o que é escrito ou narrado, é o que queremos escrever ou narrar. Por isso, nesses tempos bicudos, hipócritas e de exacerbação do ódio, nem sempre podemos dizer o que pensamos. Os riscos de interpretação são costumeiramente maiores do que a ordem vigente, que determina perseguir quem escreve contra Dom Narciso I. Essa é a razão pela qual em determinados textos busco expressões hiperbólicas para ser entendido somente pelos mais inteligentes. Foi o que tentei fazer quando comparei o 7 de Setembro do rei Jair Messias a um carnaval fora de época. Tardiamente percebi que tinha de ser mais claro. Nada do que foi dito está fora de propósito.

A época era aquela mesma. Deu errado por uma série de erros de ocasião. As duas principais falhas têm de ser creditadas ao puxador do samba da autoridade maior da escola e ao figurinista da agremiação ainda denominada Presidência da República. Sem noção do ouvido musical de parte do público que assistia ao horrendo desfile do Grupo 22, sua excelência, o puxador, semitonou, desafinou e incluiu na letra do samba cacos extemporâneos, desagradáveis e sem sifnificado lógico. Aliás, antes que confundam, o termo cacos não equivale a fragmentos de vidro ou louça quebrada, mas a falas que os artistas acrescentam ao texto original. Como foi um caco, continuo sem saber se é imbrochável ou imbroxável. Besteira.

Não foi o caso, pois, ao lado de sua atual porta-bandeira, o mestre-sala do cerrado jamais aceitaria ser chamado a atenção por palavras utilizadas fora do contexto. Deu-se mal. A sineta ficou pior do que as emendas secretas. Fora as fantasias mal acabadas dos passistas travestidos de representantes do agronegócio, a necessidade de arribar a virilidade (algo que só interessa a ele) acabou virando meme e certamente voltará à telinha no dia 19, caso Dom Narciso I mantenha a decisão de participar dos funerais de Elizabeth II. Além de fotos para a campanha, o que ele faria por lá? Pois bem, a se confirmar o encontro, a data talvez fique marcada como o dia em que Narciso I e Charles III aproveitaram a oportunidade para um embargo auricular a respeito da funcionalidade física de suas altezas. Mais do que isso será mais um mentira do mito. Aí o meme terá chegado ao Reino Unido.

Sinceramente, não tenho qualquer interesse no áudio, mas, do ponto de vista hiperbólico, seria manchete nos jornais e sites de todo o planeta. Bom lembrar da expressão para me explicar. A hipérbole é uma figura de pensamento, já que o sentido figurado reside na ideia sugerida. Assim, ela consiste no exagero proposital em uma afirmação. Daí o adjetivo hiperbólico, isto é, exagerado, excessivo. Não sei se ficou claro para os mais de 3 milhões de engajamentos produzidos por internautas que aparentemente gostaram do meu artigo de sexta-feira (9). A eles sou grato pela possibilidade de monetização do site. Ao escrever o artigo posso ter pecado por não discorrer sobre o detalhamento dos carros alegóricos, mas, ao afirmar que a Independência virou carnaval fora de época, quis dizer exatamente que a Independência bolsonarista virou carnaval fora de época.

Em síntese, carnaval chinfrim, cafona, tosco, brega e assuado, mas carnaval. Sem tirar nem por. E, com exceção da expressão assuado, nem tão hiperbólico assim. Felizmente o mundo dá voltas, a terra gira e a vida nos ensina a acompanhar as voltas e os giros da mãe natureza. São eles que, graças ao Deus de todos, norteiam os rumos dos cidadãos que preferem distância das assuadas (reunião para desordens) programadas frequentemente pela turma da pregação do ódio. Interessante é que são os mesmos que se apresentam como religiosos de primeira e última hora. Estou convencido de que, no fim e ao cabo, Narciso I e sua, quem sabe, reeleição não me preocupam. Afinal, nada a reclamar se a improvável vitória vier pelo voto. Aí, como dizem meus leitores bolsonaristas, o choro realmente será livre.

Até lá, choro de rir das baboseiras produzidas por essa turma de fanáticos, aos quais faço questão de repetir que não sou eleitor de Luiz Inácio. Esclareço, porém, que, contra Narciso I, voto em Luiz Inácio sem qualquer preocupação futura. No presente, seguindo adjetivação que eles cunharam e não se desgrudam dela, costumo dizer que, entre o ladrão e o ditador, voto conscientemente no ladrão. Ladrões têm salvação e normalmente são democratas. Quanto aos tiranos, uma vez autocrata, sempre autocrata. Sobre o caco presidencial na letra do samba do 7 de Setembro, os memes pulularam (nada a ver com Lula), isto é, brotaram com exagerada rapidez. Um deles, atribuído ao espírito sempre presente de Clodovil Hernandez, informava que, no fim, não teve golpe, mas um presidente admitindo que tem problema em manter a dita dura. Deus me livre. Ainda bem que os números não mentem: Lula 46% e Bolsonaro 31% das intenções de votos. Ponto final.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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