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Menino da Porteira pode melar sonho de poder eterno do mito

Confirmando a profecia de são Luís Roberto Barroso, haverá eleição em 2022. E, contrariamente ao que pregavam os apóstolos do mal, sem o voto impresso. Forte em suas preces de joelho no plenário acarpetado da Corte Eleitoral, o ministro venceu essa batalha sem precisar pousar ao lado dos deuses armados do Olimpo Supremo e, para o bem da democracia, sem dar um tiro e sem a necessidade de ajuda do tio Joe Biden, hoje muito mais preocupado em amenizar as tensões geradas pelos talibãs do outro lado do mundo. Por enquanto, os daqui estão escondidos, com a certeza de que o Afeganistão não é aqui. Pois bem, vencida a escaramuça da chamada auditagem da urna eletrônica, resta a refrega final do conflito eleitoral iniciado no dia 1º. de janeiro de 2019, isto é, no dia da posse do capitão.

Associada ao crescente raquitimismo eleitoral e à estiagem de votos, as últimas derrotas e a progressiva desidratação pessoal e funcional do cidadão Jair Bolsonaro parecem ter definido antecipadamente as eleições presidenciais de 2022. Obviamente que essa definição não é relativa a vencidos ou vencedores, embora os números nos aproxime cada vez mais disso. Refiro-me à máxima tecnológica de que o voto dado será o voto computado. Em outras palavras, sem o retrocesso do voto impresso não há hipótese de as milícias digital e sertaneja atuarem para forjar um presidente da República. Será eleito aquele que tiver mais votos e menos rejeição. A sorte está lançada. Ou, como diria nosso ídolo Luís Roberto Barroso em um hipotético voto digno da erudição do ministro aposentado Marco Aurélio de Mello: alea jac esta.

Se alguém preferiu aportuguesar o termo latino, nada a ver com a jaca está bichada. É apenas uma questão de sorte, substantivo feminino que tem faltado – e muito – ao mito da afronta, das ameaças, intimidações e do confronto. Não há dúvida de que, sob o comando do presidente da República, as eleições serão radicalizadas. Diriam os mais pessimistas que o quadro tende a se agravar com a tentativa bolsonarista de convocar fanáticos, cantores maluquetes e sem público e de cooptar militares para seu projeto autoritário. Pode ser preocupante, mas o Brasil está léguas acima do Haiti e, embora bem próximo das mazelas sociais do Afeganistão, a quilômetros da proposta terrorista dos talibãs. Quando digo que o Afeganistão não é aqui, quero dizer apenas que, infelizmente, o mundo não está preocupado com o encrencado país asiático.

Mas certamente está com o Brasil, oitava economia mundial (?), pulmão do planeta e cuja fertilidade ainda alimentará muitos por muitos anos. Entretanto, permanecemos como indesejáveis. Poucas nações ainda têm interesse em nos incluir em robustas mesas de negociação. Prova disso são as viagens presidenciais para o exterior. Elas não pertencem mais a esse governo. Então, daqui para frente golpear nossa democracia será sinônimo de isolamento absoluto. Qual de nós se arriscaria a enfrentar o chicote dos poderosos. Eu não toparia. E parece que o sertanejo Sérgio Reis também não. Depois de incitar os caminhoneiros para engrossar manifestações marcadas para 7 de setembro, Dia da Independência, ele veio a público para dizer que não disse o que disse. Perdeu duas vezes a chance de ficar calado. Deve ter entendido que galo morto em Panela Velha não pega mais tempero. Endurece fácil, mas esfarela com a mesma rapidez de uma macumba feita com caldo knorr e não com galinha preta.

Falta pouco mais de um ano para as eleições. As regras são questionadas reiteradamente pelo capitão e por seus fanatizados seguidores. Esquecem que a partida já está em andamento, que a regra é clara e que, nesse tipo de jogo, não há empate. Somente um receberá a faixa de campeão. As pesquisas indicam que a torcida e o Menino da Porteira estão cansados de espetáculos. Querem fatos e não fakes. O povo quer gols em profusão. As apostas estão fechadas. O Coração de Papel cansou de sofrer. O Boiadeiro Errante deve estar preocupado e com o berrante na mão por causa das recentes ações da Polícia Federal, determinadas pelo atento ministro Alexandre de Moraes. Embora tenha dito que é macho e não teme a cadeia, Sérgio Reis deve servir de exemplo. Falar demais pode melar sonhos dourados de perpetuação de poder.

Acabou a farra das ameaças contra a democracia. Bateu, levou. Se É Disso Que o Velho Gosta, é bom preparar o Couro de Boi, pois a Casinha Branca sem janelas e com cama de alvenaria já está quase pronta. E ele não está só. O ex-O Bom e agora o ruim Eduardo Araújo participa da mesma serenata golpista. Sobre o grandalhão caipira, um epílogo interessante. Conforme comentaristas de uma rádio popular, falar demais não lhe custou apenas perda de amigos, fãs e de contratos. Ele também conseguiu aguçar a memória dos contribuintes. Lembraram, por exemplo, que ele deve R$ 640 mil em impostos, recebeu R$ 400 mil do Sistema S como “influenciador”, que estava na lista do mensalão com cerca de R$ 700 mil e que, como parlamentar, recebeu R$ 55 mil da Câmara a título de ressarcimento pela compra de uma prótese peniana. Quem fala o que quer tem de estar preparado para ouvir e sentir o que não quer.

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