Em vídeo que circulou no último fim de semana, o presidente do Partido das Lágrimas (PL), Valdemar Costa Neto, diz ter gasto um fortuna com uma empresa séria e sem fins lucrativos para “descobrir” qualquer inconsistência na urna eletrônica. Ele assume que sabia que não havia – “nunca hove” – nada de inconsistente na máquina de votar. Mesmo assim, investiu uma fábula para alimentar o negativismo de um presidente que só fará o povo descansar quando estiver alijado dos próximos processos eletivos. Quem pensou em ganhar uma eleição presidencial dessa forma não merece sequer ter o nome citado. Evitarei, mas impossível não lembrar a seus seguidores que, pior do que falsificar a vacina é estar morto politicamente. Isto é irreversível.
Respeitemos a posição daqueles que querem deixá-lo insepulto, mas não encham mais o saco dos brasileiros que há mais de quatro meses olham para a frente. Recomendo aos patriotas vencidos e aos líderes da bancada bolsonarista derrotada que esqueçam o retrovisor. Luiz Inácio pode não ser notável, célebre, mas é o presidente eleito do Brasil e como tal deve ser respeitado. Descansem em paz e parem de tumultuar a vida do povo ordeiro. Não é gritando palavras de ordem contra o governo petista sobre carros de som, como fizeram no feriado de segunda-feira (1º.), que vocês mudarão o novo status do país. Depois de quatro anos de inconsistências políticas, de um rabugento e mentiroso governo e de abstinência alimentar para expressiva parcela da população, hoje o Brasil consegue respirar ares menos sombrios.
A previsão é a melhor possível. A pedra no sapato comeu a meia, mas foi expurgada a tempo de engolir o pisante. O fulano perdeu a eleição, o rebolado e, como prova de que ainda há juízes no Brasil, certamente ficará inelegível pelo resto da vida. Quiçá será preso a bem da paz e da ordem. Pode ser muito, mas é o que ele merece pelo 8 de janeiro e por tudo que fez contra a nação que tanto diz amar. A condução do processo no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral mostra que a ideia é força máxima contra as maluquices do capetão. A inelegibilidade será somente o início do calvário do pai de todas as ignorâncias e todas as maldades. Ainda que tardiamente, ele deverá ser denunciado na ONU por apologia à tortura. Aguardem e verão.
Esquecidos de que o ex-presidente do fim do mundo entrou e saiu do Palácio do Planalto sem saber que é ali, no terceiro andar, que despacha um mandatário sério, preparado e conhecedor de suas tarefas, os patriotas continuam cacarejando o que ouvem de errado. Como galinhas no cio, reclamam que o governo de Luiz Inácio está lento e não vem cumprindo com as promessas de campanha. Que bom. Pelo menos eles sabem que Lula fez promessas. Fez e irá cumpri-las. Na verdade, já começou. Se quiserem, podemos enumerar agora cerca de dez ou 12. Para não lotar a página e não macular a caçoleta dos bobalhões, basta lembrar que não precisa ser apoiador do presidente para reconhecer que, em 120 dias, ele colocou o Brasil de volta à comunidade internacional.
Irritantes do ponto de vista do barulho e revoltantes politicamente, as manifestações do Dia do Trabalho em favor do capetão foram pífias. Na Avenida Atlântica, em Copacabana, pouco mais de 100 pessoas se reuniram para gritar contra os comunistas, os quais nem eles (os patriotas) sabem quem são ou o que são. É claro que todos têm o direito de se manifestar. No entanto, o mínimo que se espera é que saibam as razões e os objetivos das manifestações. Reunir um monte de velhos e velhas desprovidos de qualquer inteligência é passar recibo de uma ignorância pra lá de conhecida. Pior é dizer no microfone que Lula e seus “gorilas” roubaram a eleição do Jair. Pior ainda é culpar Luiz Inácio pelos banhistas permitirem que seus cachorros circulem na praia sem coleira.
Se tivessem o hábito da leitura, já teriam sido informados sobre quem tentou roubar quem e sobre quem precisa de coleira. O comando da Polícia Rodoviária Federal não era de Lula; o delegado Anderson Torres, preso até hoje, não era ministro de Lula; os três ou quatro generais golpistas encastelados no Planalto não eram lulistas; os vândalos que quebraram as sedes dos três poderes não eram vinculados a Lula; o governador Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, local escolhido para o vandalismo, não é eleitor de Lula. Então, se alguém roubou – ou tentou roubar – alguma coisa de alguém, não foi Luiz Inácio. Portanto, gritem, se manifestem, mas sejam honestos. Respeitem a lógica e mostrem ao mundo quem é que mente até dormindo.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978