Lá estava aquele senhor de cabelos bem branquinhos, deitado no confortável sofá da sala. No tapete, a neta, não mais que 12 anos, ouvia atentamente cada palavra daquela boca, que ostentava um belo bigode logo acima. Ele, que quase sempre conquistava a simpatia das pessoas, possuía aquilo que costumamos chamar de carisma.
Passara anos advogando, e, como ele mesmo falava, sempre havia muitas histórias para contar. E não foi diferente naquele dia, quando ele começou a falar sobre um caso ocorrido há anos. Era a respeito de um suposto homicídio, onde o réu fora acusado de matar um desafeto com um tiro de pistola. O tribunal do júri, segundo o avô, era um show, e ele teria que conquistar a plateia para salvar a pele do seu cliente.
– O sujeito já estava condenado, bastava olhar para as expressões faciais dos membros do júri. A minha tese é de que a arma havia disparado sozinha, mas o promotor não concordou e disse que aquela arma não disparava sozinha.
– E a perícia, vô?
– Não tinha perícia, eu precisava provar ali mesmo que a arma disparava sozinha. Aquela era a minha única chance. Então, peguei a arma e a joguei no chão. E não é que a pistola disparou? O júri ficou surpreso também e, então, absolveu o meu cliente.
– Ah, que bom que o senhor conseguiu fazer com que um inocente não fosse preso.
– Ah, não! Ele era culpado!