Fernando em Pernambuco
Mesmo mal das pernas, Temer pode eleger um governador
Publicado
emGeraldo Seabra Filho
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Se o presidente Michel Temer vencer a batalha que trava com o Grupo Globo (Tv e jornal), do Rio de Janeiro, para que sua cadeira no Palácio do Planalto seja ocupada pelo presidente da Câmara, o deputado fluminense Rodrigo Maia (DEM), e continuar presidente, seu ministro de Minas e Energia, o deputado pernambucano Fernando Bezerra Filho (PSB) ganhará um forte cabo eleitoral para disputar as eleições para o governo de Pernambuco, no próximo ano.
A batalha é travada em dois campos. De um lado, Temer repete a mesma receita utilizada por seus antecessores desde o tempo de Fernando Henrique Cardoso, que aliciou parlamentares para aprovação da emenda da sua reeleição, comprando apoios com cargos e liberação de emendas. De outro, a Rede Globo chantageia cada um dos deputados com o televisionamento da sessão da Câmara que vai votar a denúncia, expondo aos eleitores o voto de cada um.
(Maia, beneficiário primeiro do afastamento de Temer, quer colocar em votação o relatório da Comissão de Constituição e Justiça sobre a admissibilidade da denúncia do procurador-geral da República de crime de corrupção passiva do presidente da República nesta quarta-feira (01/8), para atender mais aos reclamos da Globo do que das oposições e do próprio governo, que com razão transfere àquelas a responsabilidade de dar quorum para a votação.
As oposições, do PT à ala rebelde do PSDB e outros parlamentares da base do governo que não foram aquinhoados com mimos do Palácio do Planalto preferem que a denúncia não seja votada nunca, para o governo continuar sangrando até as eleições de 2018, o que facilitaria a volta deles ao poder. A entrega, agora, da cadeira de Temer a Rodrigo Maia seria dar de mão beijada o governo ao DEM, que não sabe o que é poder desde o fim da ditadura, em 1985, quando ocupava cargos graças ao apoio que a Arena, seu antigo nome, dava aos militares.
Portanto, se não interessa às oposições ejetar Temer de sua cadeira, nem ao mercado, satisfeito com o andamento das reformas trabalhista – que já virou lei – e previdenciária, que está a caminho, o interesse pelas chaves do Palácio do Planalto se resume à família Marinho, dona do Grupo Globo, para comandar o País a partir de um preposto, o deputado Rodrigo Maia, que uma vez presidente seria também um forte candidato ao governo do Rio de Janeiro, ano que vem).
Fechados os parênteses, voltamos às eleições para a sucessão do governador Paulo Câmara, que a cada dia tende a enfrentar um pleito mais difícil para continuar morando por mais quatro anos no Palácio do Campo das Princesas. A primeira dificuldade é do próprio governador, que depois de eleito tendo por cabo eleitoral o fantasma do ex-governador Eduardo Campos, não conseguiu imprimir no Estado uma liderança que fosse sequer a sombra do seu criador, e comanda provavelmente o governo mais contestado de Pernambuco, nos últimos anos.
Além dos baixíssimos índices de popularidade, que a cada dia se agravam com a impressionante escalada da violência em Pernambuco que três secretários de Defesa Social (segurança pública) por ele nomeados não conseguiram conter, Paulo Câmara enfrenta o esfacelamento do PSB, partido que Eduardo Campos mantinha unido sob mão de ferro, e hoje o governador assiste impotente, com a dissidência da família Bezerra Coelho de Petrolina (senador Fernando, prefeito Miguel e ministro Fernando Filho).
Esta poderosa família, no sentido econômico e político, que nas eleições de 2014 marchou ao lado de Paulo Câmara, no próximo ano estará em lado oposto ao governador. O clã já decidiu que disputará o governo do Estado, faltando apenas definir por qual partido e se o candidato será Fernando pai, ou Fernando filho. Pelo andar da carruagem – ou dos processos que o senador responde no Supremo Tribunal Federal como réu da Operação Lava Jato – é mais provável que o nome escolhido recaia sobre o ministro de Minas e Energia do governo Temer.
Na última terça-feira (25), quando o Governo Federal apresentou o Programa de Revitalização da Indústria Mineral Brasileira, o presidente da República fez rasgados elogios ao seu ministro de Minas e Energia, praticamente retribuindo as referências que Fernando Filho fizera minutos antes em seu discurso às realizações do governo – lei das estatais, reforma trabalhista, teto dos gastos públicos – , “não em quatro ou oito anos, mas em pouco mais de um ano”.
Temer também se curvou ao conhecimento e controle dos assuntos da pasta por Fernando Filho, demonstrados em seu discurso de improviso – o mais aplaudido da solenidade. “Deve ser orgulho do pai, não é, Fernando Bezerra?”, disse Temer ao senador que estava na plateia. Ao final do seu discurso, o presidente voltou a se referir a Fernando Filho para destacar, a exemplo do que disse fazer em seu governo, o diálogo empreendido por seu ministro para construir o programa da “modernização extraordinária da área de mineração”.
As candidaturas até agora colocadas em Pernambuco, a começar pela do próprio governador, estão em campos opostos à do presidente Michel Temer. O senador Armando Monteiro (PTB), ex-ministro de Dilma, também não teria como atrair o apoio do presidente e provavelmente, à revelia do PT estadual, obtenha novamente a solidariedade do ex-presidente Lula, caso o partido não consiga construir uma candidatura própria para disputar o governo.
Os três outros ministros pernambucanos do governo Temer – Bruno Araújo, do PSDB (Cidades), Mendonça Filho, do DEM (Educação) e Raul Junjmann, PPS (Defesa) – não tem cacife suficiente para encabeçarem uma chapa majoritária, se bem que Mendonça e Jungmann não tem essa pretensão. Enquanto Jungmann deve tentar um novo mandato para a Câmara dos Deputados, Mendonça deverá pleitear um das duas vagas de senador que estarão em disputa.
Portanto, restará a terceira via – leia-se família Coelho – para receber as benesses do Palácio do Planalto, em outras palavras o peso do Governo Federal nas eleições de Pernambuco, no próximo ano. E como entre os Bezerra Coelho quem veste o melhor figurino para essa disputa é o ministro Fernando Filho, ele certamente será ungido pelo partido que acolher o seu grupo político para ser o candidato da família ao Palácio do Campo das Princesas. Com o apoio rasgado do Governo Federal, se Temer ainda estiver no Palácio do Planalto.