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Copiando a facada

Mesmo sem roteiro original, Trump vai voar como Dumbo

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto \Reprodução/

Concordo com todos os chefes de Estado ou de Governo que se manifestaram contra o estranho ataque ao ex-presidente e agora candidato Donald Trump. Também concordo com a tese lulista de que o atentado empobrece a democracia. No entanto, não há como discordar da máxima de que a antiga retórica de violência do magnata norte-americano contribuiu diretamente para o inusitado episódio. Tanto fez que por pouco não fizeram com ele. Como as televisões do mundo mostraram online, não me utilizo dos termos estranho e inusitado como composição de qualquer denotação, tampouco conotação de dúvida acerca da agressão, como chegaram a imaginar segmentos partidários.

Por razões que não me cabe questionar, representantes de setores brincalhões ou mais radicais do Brasil encamparam teorias que alegam montagem e uso político do incidente envolvendo o ex-mandatário estadunidense. O caso ainda está sob investigação do FBI e, por consequência, não me parece correto que as ilações descambem para um ou para outro lado. Do mesmo modo que soa de forma absurda afirmar que houve armação na tentativa de assassinato de Trump, beira o destempero o ex-presidente Jair Messias dizer “que somente pessoas conservadoras sofrem atentados”.

Coisas de desesperados que, sem nada melhor para contar, apostam nas teorias da conspiração. Que me perdoem os estúpidos, mas é querer negar o óbvio tentar vincular o doidivanas Adélio Bispo, autor da facada contra Bolsonaro, em setembro de 2018, a alguém ou a algum partido político. A recíproca deixa de ser verdadeira quando nos lembramos do fracassado golpe de 8 de janeiro de 2023. Ainda sobre a afirmação de que só conservadores são vítimas de perturbados, vale registrar que John Fitzgerald Kennedy, assassinado por Lee Harvey Oswald em Dallas, em novembro de 1963, estava filiado à época ao Partido Democrata, o mesmo de Joe Biden.

Morto por James Earl Ray, outro doido varrido em abril de 1968, na cidade de Memphis, o pastor Martin Luther King era um importante ativista. Ou seja, nenhum milímetro de conservadorismo. Para contestar o besteirol bolsonarista, é de bom alvitre lembrar que os malucos agem por instinto e, mesmo sem razão ou objetivo, decidem matar quem os incomoda. Manifestações desse tipo normalmente acabam gerando engasgos perigosos e desnecessários, na medida em que, após engolidos como algo prejudicial aos antagônicos, são obrigatoriamente regurgitados como fel para o atacante e mel para o atacado.

Há mais ou menos dez dias, jornais, revistas, televisões e rádios dos quatro cantos do mundo globalizado divulgaram a movimentação de sites de extrema-direita convocando seguidores para assassinar políticos de esquerda, advogados, jornalistas e ativistas. Mais uma demonstração de que são os conservadores metidos a santos que vociferam contrariamente à vida. Portanto, quem de fato é contra quem? Dito tudo isso, reitero que não compactuo com os que têm dúvidas a respeito da facada de Adélio e do tirambaço em Trump. Embora não duvide, nada impede que eu ache engraçado alguns detalhes nos dois acontecimentos.

Adélio conseguiu subir, sem ser contido, em um palanque repleto de seguranças e apinhado de “patriotas”. Quanto a Donald Trump, sua posição privilegiada permitiu que, ao ser atingido, tivesse a bandeira dos Estados Unidos ao fundo. Como o tiro acertou quem não tinha nada a ver com o imbróglio, ele se ergueu, com apoio da equipe de segurança, contados 10 segundo após o ataque e ainda cerrou o punho para receber os aplausos da assanhada claque. Tudo cronometrado, algo que certamente nem os capacitados roteiristas da série The Boys conseguiriam. Não é o caso, mas, como dizia Steve Jobs, “Coisas incríveis nunca são feitas por uma única pessoa, mas sim por uma equipe”. O fato é que, com ou sem roteiro negociado previamente, Bolsonaro faturou com a facada e Trump vai faturar com o tiro que nem lhe furou a orelha.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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