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Miscelânea

Mestre-cuca desde sempre, mas o cardápio…

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Há quase 30 anos, metido com gastronomia, finalmente consegui abrir meu próprio restaurante aqui em Recife, cidade em que nasci. E, apesar de tanto tempo, ainda não completei 40 anos. É que, desde menino, adorava criar receitas novas com o auxílio da Solange, minha irmã dois anos mais velha.

Sentado que estou numa das 38 mesas, sorvo um café antes de começar os preparativos do dia. Olho ao redor e não consigo deixar de pensar que tudo isso teve início a partir de brincadeiras de um menino com ideias que arrancavam caretas de mamãe.

Apesar de tudo, ela sempre foi minha maior incentivadora nesse longo caminho até aqui. Ah, dona Sílvia, como eu queria que a senhora estivesse aqui vendo a cara de satisfação da clientela a cada garfada. Aos trancos e barrancos, aquele garoto conseguiu!

Mamãe falava que um dia me veria mestre-cuca. Não sei se cheguei ao nível que ela esperava, mas creio que não me saí tão mal assim. Seja como for, ela me ajudou nesse longo caminho, pois sempre me deu dicas sobre os sabores dos alimentos. Dizia para ter cuidado para não sobrepor o gosto de um em relação a outro. Todos mereciam ser ouvidos pelas nossas papilas. Pois é, ouvidos! Mamãe sabia se fazer poeta até quando me ensinava a arte de cozinhar.

Certa vez, lá pelos idos de 1994, 1995, minha irmã e eu havíamos colocado uma quantidade inimaginável de ingredientes sobre a ampla mesa da cozinha. Farinha de trigo, ovos, leite, coentro, sal, açúcar, tomates cortados em pedaços minúsculos, um tanto de cebola, azeite, pimenta do reino e algumas pimentas malaguetas. Começamos a misturar aquilo tudo, quando mamãe chegou.

Curiosa, ela ficou nos observando por um instante. Solange e eu continuamos a preparar a nossa receita maluca, quando, então, minha mãe sorriu e, por fim, tivemos o seguinte interlúdio.

— Crianças, que miscelânea é essa?

Minha irmã sorriu aquele sorriso de nervoso que até hoje tem. Mamãe, que não era boba, percebeu que eu estava encucado com algo.

— Matheus, você sabe o que é miscelânea, né?

— Sei, sim, senhora. Mas prefiro goiaba.

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