Ou restauramos a moralidade ou nos locupletemos todos. Embora não seja de minha autoria, me apossei da frase do célebre e imortal Stanislaw Ponte Preta para informar aos brasileiros que ainda não tiraram a fantasia que o Carnaval acabou. E não adianta chorar pela partida do pierrô que desfolhou o girassol da colombina desvairada. Também acabou o prazo para correr atrás do caçador que chumbou a marreca das melindrosas desperiquitadas sonhadoras. Na verdade, esses dois tipos de foliões não perderam o timing da folia de Momo. A maioria deles ainda está no Natal de 2019, no Ano Novo de 2021 e na Semana Santa de 22.
Era a época do foca em mim e nada mais. Sonharam com rei e deu leão. Imaginaram uma apoteose no Sambódromo e acordaram como caracóis hipócritas que, na versão de Victor Hugo, são os espantosos hermafroditas do mal. Sonharam, sonharam e, quem diria, acabaram recolhidos no dia 8 de janeiro de 2023. Às vezes, tenho a impressão de que o tempo deles não passou. Deixaram de bater virilha, de descabelar o palhaço, de molhar o biscoito, de envernizar o mastro e viveram quatro anos tomando chimarrão batizado com camomila e erva doce em cuias formatadas no estilo ou dá ou desce. Ameaçaram, ameaçaram e terminaram tragicamente dando. Enquanto isso, o mundo girava.
É claro que minhas referências são dirigidas àqueles que fomentaram a ideia de que, acabando a saliva, teria a pólvora. Imaginavam que, aliado à mistura bélica, o mexidão do chimarrão seria a erva divina que os levaria definitivamente ao paraíso, onde estariam em permanente noite de prazer. Erraram o caminho e foram dar no caldeirão fervente do Pai Xandão. Lá não há bode assado, vaselina sólida, magnésia bisurada e nem soldado de prontidão. O que tem na bacia hermética do xerife é um bando de cidadãos à paisana – ou de toga – enlouquecidos para mostrar à turma do bordão Brasil acima de tudo, Deus acima de todos que mitos inventados não são semideuses.
O Carnaval acabou, a folia de reis tirou as máscaras dos senhores feudais e, com a Semana Santa batendo à nossa porta, o coveiro da Covid 19 está a um passo de ter seu buraco fechado com cadeados da marca Papaiz Tô Em Cana. A seu pedido, o Brasil, graças ao Deus verdadeiramente acima de tudo, deixou de ser um país de maricas e, em tempo recorde, se transformou em uma nação de bobalhões e de fardados encarcerados. Ou seja, independentemente de quem esteja no comando, a Terra Brasilis recuperou a moralidade, sem a necessidade da locupletação generalizada. A palavra é feia. Pior é seu efeito.
É a prova de que, quando o samba é bom, o cavaco chora e a cuíca geme de medo da tuba do grande mestre de barba. Perdão ao personagem e seus seguidores entubados, mas o samba apoplético, aparvalhado, abestalhado, bárbaro e vil do compositor que jamais teve opinião formada sobre coisa alguma não aguentou as cinzas do 8 de janeiro. Atravessou a Praça dos Três Poderes e não levou uma nota 10 de nenhum dos julgadores. O resultado não poderia ser outro: hoje ele e seus passistas têm pavor de qualquer inseto taludinho. De barata para cima, todos lembram Xandão, o moço que tem mania de jogar porcarias no fundo dos latões de lixo. O que seria do Brasil se a Mocidade Acadêmica do Golpe tivesse vencido o desfile político de 2022.
Não sei, mas é a mesma dúvida do doce de coco sem o circunflexo. O que posso dizer é que meu número da sorte nunca foi o 22. Por essa razão, gosto da goiaba e do jiló como fontes de vitaminas, mas, como macho alfa juramentado e com registro em cartório, não permito toque algum na goiaba, tampouco no jiló. A metáfora é só para explicar o que estão prestes a ser engoiabados. A sorte é que eles terão tempo de sobra para a leitura das histórias do pé preto que amava queimar generais e do tenente raso que nadou, nadou e morreu capitão de bravata. Aos que continuam chorando o leite derramado, sugiro que, antes de cantar o Hino Nacional para pneus velhos, verifiquem se tem água parada neles, O Aedes Aegypti pode pegá-los por trás.