O Metrô do Distrito Federal assinou pela terceira vez contrato emergencial com o Consórcio Metroman para manutenção preventiva e corretiva dos trens. O acordo, feito com dispensa de licitação no dia 15 de dezembro, é de R$ 47,9 milhões, segundo informa o G1. Para ilustrar: a Lei 8.666, que regula os processos de licitação, veta a prorrogação de contratos emergenciais.
O Ministério Público disse que investiga todos os contratos emergenciais, mas afirmou que só poderia se posicionar a respeito da renovação após o fim do recesso judicial, em 7 de janeiro. A eventual pena ao gestor por descumprimento da lei depende da análise de cada caso, segundo o MP.
Formado pelas empresas Serveng-Civilsan e MGE, o consórcio Metroman montou uma estrutura dentro da sede do Metrô, em Águas Claras, para prestar serviço para a empresa. O primeiro contrato foi licitado e valeu entre 2007 e setembro de 2013, com garantia de cobertura por mais dois meses. Depois, alegando dificuldades para fazer um novo pregão, a empresa assinou um contrato emergencial com o consórcio por seis meses, que valeu até 26 de maio.
A previsão era de que o serviço fosse licitado ao final do período, mas contestações do Tribunal de Contas teriam impedido novamente a realização do edital. Assim, em junho o Metrô deu início a um novo contrato de seis meses com o consórcio – novamente emergencial e desta vez a um custo de R$ 48 milhões.
A intenção era de que a licitação ocorresse ao final deste contrato. Entre os dois acordos, o Metrô chegou a fazer um aditivo de R$ 965,3 mil, válido por cinco dias. O Tribunal de Contas investiga o acordo.
Na época, o diretor de Operações do Metrô, Fernando Sollero afirmou que dois fatores foram considerados para se prorrogar o primeiro contrato por cinco dias para só então dar início ao segundo: a sobrecarga de trabalho dos servidores que fiscalizam o setor de manutenção e a possibilidade de redução de custos.
Segundo ele, o aplicativo que gera o relatório mensal do contrato só funciona automaticamente quando é abastecido durante todo o mês. Assim, diz, se não fosse feita a prorrogação, os cerca de 70 funcionários da área de fiscalização do consórcio teriam de preencher as informações manualmente.
“Como o pessoal ia ter que apontar dia a dia as ordens de serviço manualmente foi que eu fiz a proposta de prorrogar aqueles seis meses improrrogáveis por mais cinco dias. Isso deu, evidentemente, uma confusão, mas teve um amparo jurídico, com jurisprudência”, declarou. Sollero não exemplificou um caso em que isso tenha acontecido.
Ele também disse que a prorrogação foi vantajosa à companhia. “Como é que eu paguei? Pelo preço velho. Se eu tivesse assinado o contrato [de renovação, em vez de prorrogação] naquele dia, por esses cinco dias eu pagaria R$ 200 mil e poucos a mais. No final, aquele aditivo de cinco dias trouxe uma economia para a administração pública de R$ 200 mil.”
O acordo com a Metroman prevê que o consórcio realize todos os serviços voltados ao usuário. Por isso, além da manutenção preventiva mensal de cada um dos 32 trens e as corretivas quando necessário, também é responsabilidade do consórcio tudo o que esteja relacionado à segurança, como os cuidados com a rede de incêndio. São aproximadamente 300 técnicos, escalados de forma que a atividade aconteça 24 horas por dia.
O professor de direito administrativo Rui Piscitelli afirmou ao G1 que justamente por ser um serviço continuado e sem prazo para conclusão – e que por isso vai sempre demandar uma renovação – é que a prorrogação pode ser questionável. Como ocorre com as contratações emergenciais, os aditivos também precisam passar por uma nova pesquisa de mercado junto ao maior número possível de empresas. Segundo o especialista, a cautela é indicada justamente para cercar o processo de todos os cuidados e garantir que os preços orçados condizem com os de mercado.
“Uma manutenção que é preventiva denota necessariamente uma continuidade. Então, a primeira coisa que vejo que precisa ficar cristalino é o que foi feito para normalizar a situação nestes 180 dias, para sanar o problema que impediu que essa licitação saísse na tentativa passada. Não havendo ordem judicial que pare o processo, as tentativas de justificativas ficam muito frágeis, porque 180 dias me parece um tempo razoável para abrir e até concluir uma licitação”, disse Piscitelli.
O professor destacou ainda que uma orientação normativa da Advocacia-Geral da União prevê que sempre seja apurado, nos casos de dispensa de licitação, se a situação emergencial foi gerada por falta de planejamento, desídia ou má gestão. A ideia é que os processos passem pela análise da corregedoria do próprio órgão que está pleiteando o contrato.
“É preciso observar o que caracteriza essa urgência. Muitas vezes, usam a justificativa de que o serviço é emergencial para embasar o contrato e encobrir falhas no planejamento, como a demora para fazer uma licitação. A falta de um serviço não é necessariamente uma emergência”, afirmou o especialista. “Essas situações fazem acender a luz amarela. É preciso reforçar ainda mais a justificativa do gestor e mostrar que não é uma emergência provocada, que não virou uma emergência por alguma postura dele.”
Investigação
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica investiga indícios de formação de cartel entre o Consórcio Metroman e a Alstom para obras de manutenção do Metrô de São Paulo e do DF. Beaseado em depoimentos de seis executivos da Siemens, um relatório da entidade aponta que o esquema aconteceu entre 1998 e 2007.
De acordo com o Cade, as empresas faziam reuniões secretas para dividir projetos e acertar que não haveria competição entre elas. As investigações tiveram início em janeiro do ano passado.
A assessoria da Serveng-Civilsan informou que a atuação da empresa é pautada no cumprimento à lei e que prestaria todos os esclarecimentos ao Cade.
O consórcio Metroman é responsável pelo serviço de manutenção do Metrô desde 2007. O primeiro contrato foi licitado e valeu até setembro de 2013, com garantia de cobertura por mais dois meses.
Alegando dificuldades junto Tribunal de Contas para finalizar o edital de um novo pregão, o Metrô assinou acordo emergencial com a Metroman por R$ 43,6 milhões no final do ano passado.
De acordo com Sollero, após o término do contrato, o consórcio foi o único a apresentar proposta para a renovação dose serviços de manutenção após a prorrogação de cinco dias.
Queixas
Apesar do valor gasto com manutenção, são frequentes as ocorrências de trens parados. “A gente trabalha para que isso não aconteça, a gente não quer que aconteça e a gente faz a nossa parte para evitar que aconteça, mas tem uma hora em que somos pegos de surpresa e acontece”, declarou o diretor de Operações do Metrô, Fernando Sollero.
A servidora pública Andréa Ramos de Lira, de 43 anos, passou a usar o Metrô há dois meses para fugir dos congestionamentos em Brasília. Ela pega o trem em Águas Claras e vai até a Estação Central, na Rodoviária do Plano Piloto, de onde segue para o Supremo Tribunal Federal.
“Nosso metrô tem um custo altíssimo, e a qualidade é precária. Já presenciei várias paradas e defeitos. Também não considero nossas estações seguras, tem escadas íngremes e falta de proteção para o embarque. As paradas são frequentes e você nunca é avisado pelo serviço de som sobre o que está acontecendo. O Metrô de repente para e não há informação sobre o motivo.”
Dependendo dos trens para trabalhar, a esteticista Taiza Ayala, de 54 anos, também critica a qualidade do serviço. Ela mora no P Sul, em Ceilândia, e usa o Metrô todos os dias para chegar ao Guará, onde está a maioria das clientes dela.
“Para fugir da ‘muvuca’, marco sempre para depois das 10h. Já passei altos ‘perrengues’ por causa de atrasos e desconforto. Já vi gente usando drogas no Metrô. Acho as estações desconfortáveis, não tem banheiro, você não pode beber nada e nem comer nada. E os trens atrasam”, disse. “Fiquei com medo quando vi jovens cheirando cocaína no vagão, por volta de 16h.”
O Metrô funciona entre 6h e 23h30 de segunda a sábado e 7h e 7h aos domingos e feriados. A média é de 140 mil passageiros por dia. O sistema tem 54 quilômetros de extensão e liga Ceilândia e Samambaia ao Plano Piloto. A estação com maior fluxo é a da rodoviária, por onde passam 20 mil pessoas por dia.