Renato Gaúcho é marrento desde sempre. Mesmo na reserva do Esportivo, de Bento Gonçalves (RS), quando ainda era adolescente, conseguiu um teste no Grêmio. O resto é história. O tempo deixou o seu estilo mais apurado, mas não menos ácido.
O maior jogador da história gremista e hoje treinador do clube afirma ao Estado que não se arrepende de ter dito que jogou mais que Cristiano Ronaldo e critica o falecido técnico Telê Santana por tê-lo cortado da Copa de 1986.
Ele ficou fora do Mundial do México por indisciplina e seu amigo, o lateral-direito Leandro, deixou a concentração em solidariedade. “O Telê não puniu apenas a mim. Puniu a seleção brasileira”, disse.
Leia trechos da entrevista:
Depois de tantas conquistas, qual é o seu maior sonho?
Tenho o sonho de dirigir a seleção brasileira. Mas nosso time está muito bem servido com o Tite. Mas uma hora a chance chega.
O Brasil vai ser campeão?
O Brasil tem todas as chances de conseguir o hexacampeonato. O Tite vem fazendo um trabalho muito bom, tem o grupo na mão e a equipe está bem ajustada. Mas não quer dizer que será fácil. Bem pelo contrário. Vai ser uma Copa do Mundo muito disputada.
Você passou por um dos cortes mais polêmicos da seleção ao ficar fora do Mundial de 1986. Depois de mais de 30 anos, o que pensa sobre o corte? Telê tinha razão?
Na minha opinião, o Telê não puniu apenas a mim. Mas a seleção brasileira. Eu estava em um grande momento, tinha sido o melhor jogador das Eliminatórias e ainda tínhamos seis meses até o início da Copa do México.
Para chegar à seleção, é preciso um bom trabalho nos clubes. O Grêmio foi campeão da Libertadores. É o melhor time do Brasil hoje?
É um dos melhores do Brasil. Dito por vocês mesmo da imprensa. Temos uma equipe equilibrada, que gosta de ter a bola e que busca o gol o tempo todo, não importa o adversário que a gente enfrente.
Como você conseguiu unir os jogadores e ter o time “na mão”?
Falo com os jogadores olhando no olho e sou sempre muito honesto com todos eles. A sinceridade é fundamental. Estive mais de 20 anos dentro de campo e sei o que se passa na cabeça deles e o que eles querem.
O que falta para o Grêmio?
Sempre falta alguma coisa. As melhores equipes do mundo precisam melhorar. Por que o Grêmio não teria que evoluir? Claro que tem. Mas dizer o que falta? Nem pensar. Não vou facilitar as coisas para os meus adversários (risos).
Você é melhor que o Guardiola?
Não vou ficar me comparando a ninguém. Gosto muito do Guardiola, mas a realidade é diferente. Ele vai para os clubes e contrata quem ele quer e monta uma seleção. Queria vê-lo trabalhar em um clube médio.
Você se arrepende de ter dito que foi melhor que o Cristiano Ronaldo?
Me arrepender? Por quê? Cristiano é um dos maiores do mundo. Mas queria ver ele jogando nos clubes que eu joguei, muitas vezes com vários meses de salários atrasados, em gramados ruins e muitos outros problemas.
O que acha dos treinadores europeus?
São tão bons quanto os brasileiros. A vantagem de muitos deles é o aspecto econômico. E no futebol isso faz toda a diferença.
Você ficou algum tempo sem clube. O que você diria para os treinadores desempregados? E para os mais jovens? E os mais velhos?
O futebol tem espaço para todo mundo, independentemente da idade Fiquei dois anos sem estar em clube, nem por isso deixei de viver o futebol diariamente. Se você tem um objetivo, vai atrás que você consegue. Isso serve para qualquer idade.
Como você administrou o interesse do Flamengo? Mexeu com a sua cabeça?
Com naturalidade. Conversei com muitas pessoas, inclusive com a diretoria do Grêmio. O interesse de um clube como o Flamengo mexe com qualquer profissional do futebol.
Muitas torcedoras afirmam que você é um “cinquentão boa pinta”. Aos 55 anos, como você lida com o assédio feminino?
Com normalidade. Já passei pela fase do deslumbramento.
O que você costuma fazer nos raros momentos de lazer?
Vejo jogo de futebol e, de vez em quando, encontro uns amigos no hotel para tomar um chope. Não tenho muito mais o que fazer no hotel (ele mora em um hotel no Rio Grande do Sul por comodidade)
Como o “Rei do Rio” (apelido dado pelo sucesso que fez nos clubes cariocas) administra a distância da Cidade Maravilhosa?
De vez em quando, em um momento raro de folga, eu vou para Rio e mato as saudades da praia, da família. Não tem outro jeito.
Como você vê a situação política do País? Vai votar na eleição?
Vou votar sim. Vejo a situação política certamente como a maioria dos brasileiros. Com muita tristeza. O Brasil tem tudo para ser uma potência em todos os sentidos.
O que achou da Venezuela?
É uma situação muito triste. A gente olha muita gente reclamando da vida, mas lá as pessoas não têm comida dentro de casa, morrem de sede e o mundo não olha para essas pessoas. É muito duro olhar tudo isso e não poder ajudar todos. Fizemos um pouco, ajudamos, mas é preciso que o mundo olhe para essas pessoas.
Tem medo de alguma coisa?
Medo? De nada.