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Mídia, classe média e o voto do eleitor conservador

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Emir Sader

Uma das características políticas do Brasil nos últimos anos tem sido a polaridade entre a votação nas regiões em que o papel dos meios de comunicação é determinante – de que as grandes cidades do Centro-Sul é o melhor exemplo – e aquelas em que a melhoria das condições de vida da população é determinante – como no Nordeste do país – e anula o efeito da imprensa. Foi assim, caracteristicamente, na reeleição da Dilma, em 2014, quando ela foi amplamente derrotada no Centro-Sul – com a grande e decisiva exceção de Minas Gerais onde, ainda assim, foi derrotada em Belo Horizonte –, mas triunfou, sempre com mais de 70%, no Nordeste do Brasil.

Esse caráter conversador do voto nas grandes metrópoles é característico do mundo contemporâneo, tanto na América Latina, como na Europa. São lugares em que não apenas o peso da mídia é mais importante, como também a força da classe média na formação da opinião pública é maior que em outras regiões dos países. E uma classe média que tem abrigado no seu seio tanto correntes muito conservadoras, como também setores que assumem posições de extrema-direita, de intolerância com a diversidade de opiniões, de racismo e de machismo marcantes. E o fazem com estardalhaço, contaminando a percepção das posições do conjunto da sociedade.

As eleições municipais de quatro anos atrás revelaram com clareza esse fenômeno, com resultados muito favoráveis à direita, que não apareceram tão claramente, pela vitória de Haddad em São Paulo, um fenômeno na contramão das tendências predominantes. Os resultados no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em Porto Alegre, em Salvador, em Fortaleza, em Belém, em Manaus, entre outros, definiram essa tendência geral, que agora volta a se expressar.

Os resultados do primeiro turno das eleições municipais deste ano confirmam esse cenário e essa tendência. Antes de tudo, pela vitória do candidato tucano, João Doria, em São Paulo, impedindo a reeleição de Fernando Haddad, apesar do excelente mandato do atual prefeito. É a expressão mais categórica dessa tendência. A direita acabou concentrando seus votos em Doria e impediu, pela terceira vez, que o PT pudesse reeleger o seu prefeito.

Em cidades como Salvador, o prefeito de direita conseguiu se reeleger no primeiro turno. Em outras cidades importantes, como Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, foram para o segundo turno somente candidatos de direita. Mesmo onde a esquerda chegou ao segundo turno, como no Rio de Janeiro, Recife e Belém, chegou em segundo lugar, às vezes em duras disputas com os que ficaram para trás, enfrentando vantagens substanciais do candidato da direita que liderou o primeiro turno.

No Rio, Freixo teve votação mais de 10 pontos inferior da obtida há quatro anos, contou com o voto útil para chegar ao segundo turno e o Psol ainda perdeu um vereador na Câmara.

Em suma, o monopólio dos meios de comunicação, que tanto mal tem provocado à democracia brasileira, tem seus efeitos concentrados sobre as grandes cidades, onde o eleitorado, uma vez mais, revela o peso do conservadorismo. Campanhas dirigidas para produzir rejeição nos políticos e governantes de esquerda – de que o caso de São Paulo é o mais escandaloso –, abrem caminho para políticos aventureiros e candidatos sem maior expressão, catalisarem o voto antipetista.

Nas grandes cidades se concentram os dois fatores mencionados acima: o peso da mídia e o peso da classe média, particularmente sensível a essas campanhas. O primeiro turno das eleições municipais deste ano reflete diretamente esse fenômeno. Ele tem se manifestado também nas grandes cidades latino-americanas, assim como nas europeias, onde esses fatores pesam igualmente.

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