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Milícia de Trump não pega Biden e silencia o Brasil

No melhor cenário para os Estados Unidos e para o mundo, o maluquete Donald Trump será preso dia 21 de janeiro por sonegação fiscal, chefia de milícias, arruaça, ameaça às instituições públicas, descontrole econômico, incitamento de invasão a prédio público, intolerância racial e a opostos, desgoverno, desmandos, ataque frontal à democracia mundial, prepotência, má formação como propedeuta, assassinato e feiura, entre muitos outros crimes que fogem à memória. No pior, será apenas alijado da vida pública e expulso do Partido Republicano, legenda que, deliberada e irresponsavelmente, jogou no buraco mais profundo do ostracismo. O meio termo pode ser um recolhimento em praça pública a um dos manicômios judiciais norte-americanos.

Além da fragorosa derrota nas arcaicas e obsoletas urnas dos EUA – o sistema é perigoso e gera confusões –, Trump mostrou a seguidores e alunos desprovidos de propostas que lhe falta o que achou que tinha para ensinar e vender: preparo, postura, conhecimento de governo, zelo pela coisa pública, controle, senso de derrota, apoio e beleza física. O pior foi deixar claro que nunca soube o que é democracia. Se soubesse, poderia ter impedido uma das piores catástrofes para a imagem da maior economia do planeta. Pelo contrário, inflamou milicianos até o último instante. O restante, o mundo assistiu ao vivo e em cores: o Capitólio e os EUA na sarjeta.

O propedeuta descompensado, que se achava imperador, encerra seu mandato como começou: chefete inventado nos porões republicanos. Sai de cena pior do que um boneco inflável de posto de gasolina e acusado de ter transformado um “exemplo” de nação em uma republiqueta de bananas, exatamente como quer fazer um de seus mais mal aplicados alunos. É o preço que se paga pela prepotência e pelo abuso de autoridade. Finalmente caiu a máscara do cabelo de fogo. Na prática, Trump não perdeu apenas a eleição. Implodiu seu futuro político e o partido que o acolheu, transformando os democratas em “donos” da Câmara, do Senado e do Sul dos Estados Unidos, região que já produziu baluartes de integridade como Martin Luther King Jr. e John Lewis, mas permanecia quintal dos poderosos e dos extremistas.

De pretenso imperador, dono de empresas quebradas, chefe de maluquetes que nada sabem e craque em arruinar democracias, Donald Trump deve ser o primeiro doido a reservar assento em uma nave para Marte. O lamentável episódio protagonizado pelo quase ex-presidente norte-americano pelo menos serviu para que as marionetes neopopulistas coloquem as barbas de molho, principalmente aqueles que insistem em falar de fraudes eleitorais sem prova alguma. Mais uma semelhança com conhecidos desgovernos. Também mostrou o que acontece quando um presidente sistematicamente ataca instituições consolidadas nas repúblicas, tenta despudoramente minar a credibilidade do sistema eleitoral e propositadamente trabalha para reduzir o respeito aos demais poderes.

Logo após a arruaça em frente e dentro do Capitólio, somada à morte de uma simpatizante do caos, ecoaram pelas republiquetas que amam amar o despotismo trumpista sinalizações esquisitas sobre um provável roteiro para 2022 no Brasil. Insensato acreditar nessa hipótese. Em primeiro lugar, ainda somos – os governos, é claro – demasiadamente amadores para tal iniciativa. Prova que bastaram posicionamentos ferozes de parte expressiva da sociedade, inclusive com estridentes panelaços, altercações desmedidas com setores do Congresso e alguns gritos e canetadas da magistratura superior, seguidas de prisões de foras da lei, para que baderneiros e subservientes palacianos sossegassem o facho e entendessem que o país está de saco cheio de mentirosos. Depois, sem o apoio simbólico dos EUA dificilmente os déspotas farão ameaças que não poderão cumprir. Um golpe, por exemplo.

De prático, o ato estimulado por Trump, cujo maior temor é ser preso, mostrou às marionetes espalhadas pelo mundo que não adianta o jus ersperniandis. Invadiram, quebraram tabus, implodiram irremediavelmente bens democráticos seculares, mas, felizmente, prevaleceram o bom senso e a verdade. No fim, Joe Biden, eleito sem fraudes, teve a vitória confirmada e tomará posse dia 20 de janeiro. Então, os que incialmente sentiram gostinho de sangue com o sorriso maroto do propedeuta esbranquiçado devem ter realocado os neurônios na manhã seguinte, de modo a raciocinar sobre o futuro de seus chefes, sobretudo os que mantêm o discurso remendado da fraude, têm medo de contrariar o mestre – ainda que ele esteja respirando por aparelhos – e que, por essa razão, esquecem deliberadamente de se manifestarem pública e contrariamente a respeito das maluquices dos que idolatram. É esperar para ver.

*Mathuzalém Junior é jornalista profissional desde 1978

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