O major-brigadeiro (equivalente no Exército a general três estrelas) Jaime Sanchez voltou a apontar sua artilharia verbal nesta quinta, 4, contra o Congresso Nacional e o Poder Judiciário (na figura máxima do STF) alertando que esses dois poderes estão implantando no Brasil a velha inquisição europeia. Ele citou como exemplo os fatos relacionados a supostas trocas de mensagens entre o hoje ministro Sérgio Moro e o coordenador da Lava Jato Deltan Dallagnol, que teriam feito conluio para colocar corruptos na cadeia.
“Há uma clara demonstração do grau de desespero e do baixo nível ético e moral a que chegou grande parte dos nossos parlamentares, e como o sistema de governo atual é distorcido. Há uma repugnante inversão de valores; ladrões desafiam e agridem os defensores da lei, enquanto exigem para si o tratamento de excelência, sinônimo de superioridade, primor, perfeição, quando na realidade os representantes da esquerda que ali estavam proferiam apenas vulgaridade e mesquinhez”, disparou o militar em texto que circula nas redes sociais.
Jaime Sanchez advertiu que o Brasil caminha para o caos institucional. “Hoje, o legislativo investiga, o judiciário legisla e o executivo é por eles impedido de executar. Uma verdadeira anarquia reina na cúpula desses dois poderes, produzida por uma Constituição ambígua, constantemente remendada para aproximar-se cada vez mais do parlamentarismo disfarçado de “presidencialismo de coalizão”, escreveu. Ele costuma associar o Congresso e o Supremo a uma ‘sucuri de duas cabeças, pronta para engolir o Palácio do Planalto’.
O que está escrito na apresentação (do Congresso) não vale, afirmou, ao citar textualmente o que se lê no portal da Câmara dos deputados: MISSÃO, representar o povo brasileiro, elaborar leis e fiscalizar os atos da Administração Pública, com o propósito de promover a democracia e o desenvolvimento nacional com justiça social. VISÃO, consolidar-se como o centro de debates dos grandes temas nacionais, moderno, transparente e com ampla participação dos cidadãos. VALORES, ética, busca pela excelência, independência, legalidade, pluralismo e responsabilidade social.
Porém, ‘com poderes crescentes’, sublinha Sanchez, a agenda do Congresso, “ao invés de buscar esses parâmetros, por eles mesmos estabelecidos, perde-se em intermináveis e sucessivas Comissões Parlamentares de Inquérito oficializadas pela ‘constituição cidadã’ e regulamentadas pelo seu regimento interno, que terminam com sabores calabresa, muzzarela e estrume.”
Na interpretação do major-brigadeiro, a Constituição de 1988 dotou as CPI’s de poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. “O regimento lhes atribui poderes invasivos de polícia, como requisitar funcionários, informações e documentos de órgãos e entidades da Administração Pública; determinar diligências; ouvir indiciados e testemunhas; requerer audiência de Deputados e Ministros de Estado; colher depoimento de autoridades federais, estaduais ou municipais; e requisitar serviços de autoridades públicas.”
Segundo o militar, “as leis mal redigidas no Congresso assemelham-se a um queijo suíço, por cujos buracos vertem podridão e regalias, tramadas nos escritórios e corredores infestados por ratazanas sevadas com verbas públicas. Essa prática antirrepublicana repete-se a cada governo, cada legislatura. A aplicação de boa parte dessas leis, eivadas de vícios, omissões e imoralidades resultam numa enxurrada de recursos no Judiciário e alguns chegam rapidamente à última instância, onde existem conhecidos xerifes, lenientes e corruptos, que com sua diarreia verborrágica passam a legislar, tomando decisões dúbias e criando jurisprudências oportunistas e convenientes, que eles próprios se incumbem de corromper, a exemplo das repetidas tentativas de revogar a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, para atender a patrões encarcerados, tornando-se cúmplices do crime organizado, prontos a absolvê-los dos delitos cometidos contra a sociedade. Aí está formada a cadeia maldita de autoproteção, com o intento de corroer e desvirtuar todas as medidas que ponham em risco seus objetivos de riqueza e permanência no poder.”
A persistir esse quadro, enfatiza o militar, “iremos para o caos, como os bovinos caminhando em direção ao matadouro, ou como o porco, que grita desesperadamente e que nada faz”. Jaime Sanchez encerra dizendo que a sociedade brasileira pode ‘dar um basta’ nessa situação. Para tanto, sugeriu, “é preciso sair da zona de conforto das passeatas ‘sociais’ que fazemos em certos domingos e usar todos os meios disponíveis”. Ele não diz que meios seriam esses, mas indica que os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional precisam ser pressionados no sentido de pressionarem para colocar ‘o País nos trilhos’.