Com o envio da proposta de reforma da Previdência ao Congresso Nacional, surge um fato novo, no mínimo curioso. Toda grande mídia e grande parcela do Legislativo e Judiciário, parecem absolutamente coordenados e orquestrados para tocar o samba de uma nota só, numa tentativa de tirar os militares do ritmo. A verdade é que desde dezembro de 2000, a categoria amarga as maiores perdas de direitos de todo o funcionalismo.
Naquele ano, por meio de uma Medida Provisória que nunca foi votada, o então presidente Fernando Henrique Cardoso sequestrou com força quase todas as conquistas que os militares tinham em seus contracheques, por conta das especificidades reconhecidas na maior parte das Forças Armadas de todo o mundo.
Boa parte desses direitos extintos, ainda são maldosamente citados como vigentes por quem tem interesse em desviar o foco dos realmente privilegiados, os demais servidores, principalmente dos poderes Legislativo e Judiciário.
Desde o início do governo Lula todo o funcionalismo federal foi contemplado com vultosos aumentos, a reboque do fortalecimento dos sindicatos diretamente atrelados aos governos petistas, e que faziam parte do plano de aparelhamento e perpetuação de poder das esquerdas, exceto os militares.
A razão era óbvia, pois estes sempre foram o óbice às intenções desta perpetuação, por essência democrática e juramento de fidelidade à pátria.
Agora, com a ascensão da direita ao Poder, e a secura das fontes costumeiras e pouco republicanas de obtenção de recursos, eis que, neste momento de urgente reforma da previdência, vez que esta foi quebrada justamente por esta política de aparelhamento, surge o perigo de os holofotes voltarem-se para os reais e indecentemente verdadeiros detentores de privilégios, encastelados no Legislativo e no Judiciário.
Com isso, a grande imprensa, rádio, TV, internet e demais meios, que estão à míngua de verbas públicas, antes fáceis, aderem à campanha do boi de piranha. É justamente o boi mais fraco que, no pantanal, é o escolhido para ser sangrado e atravessar rio abaixo, para a boiada forte passar despercebida rio acima.
Em outras palavras, enquanto o povo é incitado massivamente a olhar para os militares, achando que estes ainda detêm algum privilégio, nada se percebe do que se passa onde definitivamente estes se perpetuam.
E assim, acreditando que foi feita alguma justiça, destroçando o que resta da categoria que há 16 anos não participa de festa alguma, que tem os piores salários de início, meio e fim de carreira de todos do funcionalismo, o povo brasileiro tem tudo para ser mais uma vez enganado e levado no bico, pelos mesmos de sempre.
É verdade que a direita ascendeu ao poder, mas apenas no Executivo. O restante, onde mandam Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e Dias Toffoli, ainda dá sérias demonstrações de domínio da boa e velha prática do reino dos privilégios sem fim.