Militares com vozes ativas nos quartéis e no Congresso Nacional estão desaconselhando as manifestações programadas por grupos bolsonaristas para as portas dos quarteis neste domingo, 31. O pensamento geral é o de que as divergências que vêm ocorrendo entre o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal devem ser superadas com diálogo, sem interferência das Forças Armadas.
Ao menos quatro generais – dois ex-ministros do governo de Jair Bolsonaro e outros dois com mandatos na Câmara dos Deputados – afirmam que os quarteis não podem ser envolvidos nessa disputa entre os poderes. O clima, segundo eles, é de silêncio entre os militares e deve continuar assim. Em outras palavras, os quarteis vão permanecer em silêncio, sem tomar partido, respeitando a Constituição ao pé da letra.
As manifestações deste domingo militares estão sendo programadas em grupos de WhatsApp bolsonaristas. As mensagens compartilham endereços e imagens dos quarteis e dizem que o ato é em apoio a Bolsonaro e às Forças Armadas. Pregam ‘Fora Congresso, Fora Supremo e Morte aos Comunistas”.
O deputado General Girão (PSL), partidário do presidente, pede cautela ao povo. Ele reconhece que as manifestações populares são legítimas, desde que respeitadas as regras e que não induzam a uma ação militar. “Sempre fui contra e continuo contra (a esse tipo de jogo)”, disse o parlamentar a Notibras, condenando o que considera “intrigas e desobediência à Constituição”.
Segundo Girão, os quarteis não se deixam contaminar com o que acontece nas ruas. “Os militares continuam fazendo seu trabalho, mas infelizmente o Judiciário, o Legislativo e o Executivo “estão se digladiando e armando a confusão. Eu não posso ser contra a manifestação popular; a população tem todo o direito de se manifestar, e sempre foi assim na historia do Brasil. mas não vou apoiar de maneira alguma qualquer ato que venha a afrontar a tranquilidade e o silêncio dos quarteis, que é algo que deve ser respeitado”, avisou.
Ainda de acordo com o deputado General Girão, “nós, militares das Forças Armadas, principalmente o pessoal da ativa, somos obrigados por força de lei constitucional a mantermos um estudo das situações interna e externa. E fazemos isso muito bem, porque o Brasil é um país incólume; nossas Forças Armadas nunca foram derrotadas” e isso não acontecer=á agora, em meio a intrigas, repetiu. E reafirmou que “manifestação é livre. mas na frente de quarteis, sou contra.”
O também general Maynard Santa Rosa considera “uma insensatez que está se tornando normal, uma apologia perigosa”, numa referência aos passos dos bolsonaristas. Ex-ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Bolsonaro, cargo que deixou por discordar de algumas das ações do presidente, o general garante que não existe a mínima chance de adesão dos aquartelados aos protestos. “Se insistirem nisso, o tiro poderá sair pela culatra. O estímulo à indisciplina pode forçar o Exército Brasileiro a sair da zona de conforto”, enfatiza, sugerindo que os militares, a persistir o atual quadro, podem se afastar do governo.
Santa Rosa reconhece que esses movimentos estão deixando os oficiais desconfortáveis, e que isso já foi sinalizado ao Palácio do Planalto, tendo o ministro da Defesa Fernando Azevedo como mensageiro. Não seria surpresa, diz ele, num hipotético caso de acirramento de tensões, que os militares que ocupam cargos-chave na administração pública retornassem aos seus postos, para que a imagem das Forças Armadas não seja associada a uma crise que, afirma, deve ser solucionada via diálogo.
A mesma opinião é compartilhada pelo general Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo, que pediu demissão após entrar em rota de colisão com Carlos, Flávio e Eduardo, filhos do presidente Jair Bolsonaro. Ninguém nas Forças Armadas, frisa, “está pensando em golpe”. O general lembra frase do ministro da Defesa, quando alertou que o foco dos militares é o cumprimento da Constituição. “A instituição (Exército) é muito bem comandada, em todos os níveis. Como a estrutura é muito sólida, a disciplina impera e o respeito hierárquico e funcional é muito consistente”, diz o ex-ministro.
Ainda de acordio com a opinião de Santos Cruz, “o foco institucional é mantido pelo comandante e todos os seus subordinados. O Exército, assim como as outras Forças, está sempre presente em todas as situações em que é chamado, mas não se mistura com assuntos de rotina de governo, discussões entre Poderes, disputas políticas e partidárias. Eu não tenho dúvida nenhuma de que não existe qualquer possibilidade de qualquer atitude que não seja aquela prevista na Constituição. Creio que não existe qualquer possibilidade do Exército (e das outras Forças) favorecer qualquer atitude inconstitucional. É um medo que a população não deve ter”, enfatizou.
Por fim, o deputado General Petterneli, do PSL como o seu colega Girão, entende que o momento é de se voltar para outras prioridades. “O país precisa pensar em superar o coronavírus e retomar o crescimento”, opina ele. “Precisamos de serenidade e união”.