Na mira da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS, o ex-procurador da República Marcello Miller disse que “não recebeu remuneração da J&F por nenhuma atividade” relativa à empresa e que não agiu por ganância.
A manifestação é uma reação à entrevista do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, na qual ele disse que Miller “já não estava mais na equipe quando fez as besteiras que fez” e que avalia que o ex-colega agiu “por uma ganância”.
“Nada fiz por ganância: nem ir para a advocacia privada, nem preparar seu exercício em favor da J&F, depois de pedir exoneração do MPF”, rebateu Miller. Para ele, Janot poderia “se lembrar” que ele é um cidadão e que “tem direitos”.
“Suposições vazias e adjetivações sem substância não contribuem para uma discussão sóbria”, disse Miller. “Trata-se de questões relevantes para a vida de um cidadão que – abstraída sua condição de ex-membro do MPF, muito tendo dado de si à instituição – tem direitos. Quem exerceu por quatro anos o cargo de procurador-geral da República poderia lembrar-se disso”, afirmou.
Segundo Miller é, “no mínimo, escassez de análise” o fato de Janot ter “reduzido à ‘ganância’ o desejo de participar do que seria um dos maiores projetos de remediação de empresas jamais empreendidos”. O Grupo J&F firmou o maior acordo de leniência do mundo, em valores absolutos. Miller disse que o dinheiro que recebeu na advocacia privada foi “estritamente” previsto em contrato, “sem nenhum acréscimo em razão de cliente algum”.
O ex-procurador está no centro da crise que atingiu a Procuradoria-Geral da República, suspeito de atuar nos dois lados do balcão e orientar a J&F quando ainda era do MPF. Esta é a primeira resposta direta de Miller a uma menção a seu nome. Desde que o imbróglio envolvendo a delação da J&F veio à tona, ele se manifestou em um artigo e por meio de seus advogados.