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Mineiros se rebelam contra ação da Polícia Federal

A Comissão da Verdade em Minas Gerais e entidades do mundo político e acadêmico reagiram, nesta quarta-feira, 6, às conduções coercitivas do reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, Jaime Arturo Ramirez e da vice-reitora, Sandra Regina Goulart Almeida, e outros funcionários no âmbito da Operação Esperança Equilibrista.

A ação foi deflagrada pela Polícia Federal, com apoio da Controladoria-Geral da União e do Tribunal de Contas da União, contra desvios de recursos da Universidade para implantação do “Memorial da Anistia Política do Brasil”. Docentes e entidades veem ação da PF como “autoritária”.

Segundo a decisão, “há indícios de que o atual Reitor, Jaime Arturo Ramirez, e a Vice-Reitora, Sandra Regina, tenham autorizado a exposição cientes das irregularidades”.

Em nota, a CGU informou que foram apurados, até o momento, desvios de mais de R$ 3,8 milhões de recursos vinculados ao projeto do memorial. Além disso, na execução e na prestação de contas da iniciativa, foram verificadas irregularidades, como: falsificação de documentos, pagamento de estágio a pessoas sem vínculo estudantil, desvio de valores para outras contas estranhas ao projeto, além de gastos não relacionados ao objeto da obra.

A Comissão da Verdade em Minas Gerais afirma receber “com surpresa e indignação a notícia da realização da operação da Polícia Federal, ironicamente, intitulada ‘Esperança Equilibrista'”.

Segundo o professor de Ciências Políticas da UFMG Dawisson Belém Lopes, afirma que a UFMG “jamais se curvou ao presidente ora instalado no Palácio do Planalto” e que os dirigentes da Universidade passaram por “uma duríssima provação: foram arrastados coercitivamente para a sede da PF, a pretexto de fazer depoimento sobre alegado desvio de verbas, ocorrido ainda na década passada, em gestão anterior da Reitoria”.

“O ‘release’ produzido pela assessoria de imprensa da PF, de um cinismo indisfarçável, contém até mesmo um parágrafo explicativo sobre a origem do nome da operação. É ação midiática, sim, despudoradamente. Provoca abertamente os setores comprometidos com a defesa dos DDHH. Oportunista, truculenta, autorreferente. É bem isso, amigos. Como no poema de Maiakovski, já pisaram as nossas flores e mataram o nosso cachorro. Agora querem roubar a nossa luz”, afirmou.

“Há um evidente ataque de setores conservadores e autoritários contra a Universidade brasileira e tudo o que essas instituições representam para o Brasil”, afirmam.

A entidade ainda evoca a prisão temporária do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, que cometeu suicídio poucos dias após deixar o cárcere, alvo da Operação Ouvidos Moucos.

“O ocorrido com o reitor da UFSC, a absurda nota de instituição financeira do exterior a criminalizar o ensino superior público, as inúmeras investidas contra os setores profissionais, artísticos e culturais que lutam contra o arbítrio e pela democracia real são claros sinais do estado de exceção em curso no país”.

A Comissão da Verdade ainda diz que “ao criminalizar uma das maiores Universidades do país abre-se a porta para a criminalização de todo um segmento que não se alinha aos setores autoritários”. “Nós da Covemg conhecemos bem essa metodologia”.

“Manifestamos nossa solidariedade aos dirigentes e ex-dirigentes da UFMG constrangidos nessa operação. Afinal, tendo residência fixa e sendo cidadãos do mais alto conceito, a condução coercitiva se transforma numa brutal violência, a evidenciar o obscurantismo que envolve ações da justiça e da polícia nesse momento histórico”.

A Associação dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouros Brancos também lembra o caso ao manifestar apoio aos professores da UFMG.

“A repetição de uma condução coercitiva de Reitor e corpo diretivo de uma Universidade, similar ao ocorrido recentemente em Santa Catarina com consequências trágicas, nos preocupa sobremaneira. A APUBH está atenta e não poupará esforços e ações para defender os seus professores e a Universidade”, diz a entidade.

A deputada federal Margarida Salomão (PT), presidente da Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Federais,

“Será que a polícia não tem mais o que fazer além de conduzir reitores coercitivamente? Isso é uma violência, uma violência simbólica, uma violência inadmissível. Um país que investe contra a sua universidade, contra sua pesquisa, contra a sua academia é um país que se auto condena à mediocridade, à obscuridade, à insignificância”, disse.

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