Ricardo Brandt e Julia Affonso
A força-tarefa da Operação Lava Jato investiga se o marqueteiro do PT João Santana – preso desde 23 de março – recebeu parte dos R$ 12 milhões emprestados por meio de suposta fraude pelo Banco Schahin, a pedido do PT, pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Santana foi o responsável pela campanha do ex-prefeito de Campinas (SP) Hélio de Oliveira Santos (PDT), o Dr. Hélio, em 2004, que, segundo Bumlai e delatores, foi abastecida com os recursos.
Os investigadores da Lava Jato querem saber qual a relação entre os R$ 12 milhões emprestados – e nunca pagos formalmente ao Banco Schahin – e um repasse de R$ 600 mil para uma empresa de João Santana pela Núcleo de Desenvolvimento Estratégico da Comunicação (NDEC). Nome oficial da produtora VBC, a NDEC pertence a Armando Peralta e Giovane Favieri, empresários citados por delatores e por Bumlai como propositores do empréstimo.
Os R$ 12 milhões levaram o pecuarista à cadeia em novembro de 2015, alvo da 21.ª fase batizada de Passe Livre – referência ao acesso que ele tinha ao Planalto no governo de Lula. Bumlai apontou os nomes dos dois empresários e ainda a participação do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira e do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares na transação. A partir dessas descoberta, a Lava Jato chegou a dois caminhos do dinheiro.
Ronan – Metade dessa soma – R$ 6 milhões – teria sido repassado ao empresário Ronan Maria Pinto, preso na 27.ª fase da Lava Jato, a Carbono 14. O valor, segundo o Ministério Público Federal (MPF), serviu para o empresário comprar o jornal Diário do Grade ABC e ônibus. A outra metade leva ao pagamento de campanha em Campinas (SP) e de outras cidades, via Peralta e Favieri.
É essa frente de apuração que investiga os supostos pagamentos a Santana e podem unir três fases de operações: a Passe Livre (alvo Bumlai), Acarajé (alvo Santana) e Carbono 14 (alvo Ronan). “Estamos investigando ainda essa remessa da outra parte do dinheiro”, segundo o procurador da República Diogo Castor de Mattos.
Os nomes dos donos da NDEC e suas relações com João Santana estão desde 2006 no radar do MPF. A empresa pagou R$ 600 mil para a produtora Santana & Associados nas eleições municipais de 2004. O dinheiro seria por serviços prestados na campanha de Dr Hélio, mas bancadas pelo PT.
Em depoimento à PF, Delúbio confirmou que os R$ 12 milhões teriam relação com campanha em Campinas (SP), em 2004. Naquele ano, o PT nacional patrocinou o candidato a prefeito de Dr. Hélio.
Procurada pela reportagem, a assessoria de Santana informou que não ia se pronunciar. Peralta e Favieri foram procurados, mas não foram localizados. O ex-prefeito de Campinas não foi localizado.