O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou na manhã desta quinta-feira, 5, que a “sociedade brasileira criou ambiente para fatos lamentáveis”, como as mortes do soldado Mário Kozel Filho e do jornalista Vladimir Herzog. A declaração foi dada em São Paulo após o general presidir uma cerimônia em homenagem ao militar, morto há 50 anos durante a explosão de um carro-bomba durante o regime militar.
O ato se deu um dia depois de a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenar o Brasil pelo assassinato de Herzog, em 1975, e determinar o pagamento de indenização à família, além da reabertura do caso. Para Villas Bôas, o momento do País exige “recuperação coesão nacional”.
O general afirmou que o contexto em que ambas as mortes ocorreram deve receber uma análise comparativa com o momento que vivemos hoje. De acordo com o general, o Brasil permitiu com que a “linha de confrontação da Guerra Fria dividisse a nossa sociedade”, provocando casos como o de Kozel e Herzog. “E, hoje, o momento é de linhas de fratura, o que exige a recuperação de uma coesão nacional, o restabelecimento de uma ideologia de desenvolvimento e um sentido de projeto, para que as gerações futuras não venham a passar o que ocorreu há 50 anos.”
No discurso que fez durante a cerimônia de homenagem a Kozel, o comandante do Exército disse que o cenário atual nos aconselha, aos brasileiros e às instituições, a prudência nos ânimos, sabedoria para iluminar o futuro e, principalmente, união dos esforços para construí-lo. Criticou ainda as “ideologias contemporâneas” e afirmou que a “fratura da sociedade, ocorrida no período militar, é uma “experiência para ser lembrada”.
Para Villas Bôas, o Brasil está na iminência de algo muito grave: a perda de sua identidade. “A consequência disso seria um País à deriva. E isso não pode acontecer. Um País com o potencial do Brasil, que tem um papel muito importante a cumprir no mundo. Então, acho que é assim que temos de entender esses eventos, tanto a morte de Kozel como de Herzog.”
Ele ainda citou que apenas gostaria que a família do soldado morto aos 18 anos recebesse os mesmos direitos e atenções, em referência à decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos
Para o general, a “sociedade brasileira está se esgarçando”. Ele considera que no Brasil se substituiu o “civismo pela cidadania, e quase que como uma militância, onde o conjunto de direitos negligencia o conjunto de deveres que cada cidadão deve ter. “Isso se pode medir nas reações da população em eventos como a Copa do Mundo. Está totalmente diferente a reação da população, que sempre tinha uma grande motivação.”
Intervenção – Villa Bôas voltou a descartar qualquer possibilidade de uma intervenção militar no País. Segundo ele, essa é uma questão simples: “Quem interpreta que o Exército pode intervir é porque não conhece as Forças Armadas e a determinação democrática, de espírito democrático, que reina e preside em todos os quartéis”, afirmou.
De acordo com o general, que se reuniu com os principais pré-candidatos à Presidência da República para tratar de temas relacionados, por exemplo, à defesa, segurança pública e controle das fronteiras, o movimento que pede a volta dos militares ao poder não tem caráter ideológico, mas representa um apelo ao restabelecimento da ordem.
“De qualquer forma, as Forças Armadas e o Exército se, eventualmente, tiverem de intervir será para cumprir a Constituição, manter a democracia e proteger as instituições. Sempre o Exército atuará sobre a determinação de um dos poderes da República, como aconteceu agora, por exemplo, na greve dos caminhoneiros. Fomos determinados a intervir e o fizemos em todo o território nacional. Outro exemplo é a intervenção no Rio de Janeiro. Então, é uma questão simples.”