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Igual, só a fralda

Mistério das roupas novas de crianças intriga vizinha

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Depois da aposentadoria, tenho andado pelas ruas da cidade. Observo tudo ao meu redor e, não sei se por compaixão, curiosidade ou simplesmente implicância, há coisas que me chamam mais a atenção. A mais recente é uma casa, que parece ser alugada, pois sei que o antigo morador, apesar de conhecê-lo apenas de vista, foi passar uma temporada na Bolívia. Como sei disso? A fofoca corre que nem preá assustado.

Evito fixar o olhar naquela residência, mas não tenho dificuldade em perceber que por ali reside uma família cheia de crianças. Caso não tenha perdido as contas, é de pelo menos meia dúzia de guris. As idades variam entre dois a doze anos, talvez mais. E, apesar dessas diferenças, todos me parecem viver em harmonia, tanto é que sempre estão brincando em frente à casa no final da tarde para o princípio da noite, mas não sei a hora que se recolhem.

Imagino que a trupe deve estudar no período matutino, pois nunca a vejo quando saio para a primeira caminhada do dia, geralmente para comprar pão na padaria do Alcântara. Aliás, para quem gosta de pão de queijo com queijo de verdade, recomendo. Tanto é que não consigo resistir e como dois ou três no caminho de volta. Mas deixemos as papilas gustativas de lado e voltemos à história.

A referida residência, ao contrário das demais, foi construída no fundo do terreno. Não sei se foi por preferência de quem a planejou ou, então, foi distração do engenheiro. Seja como for, tal detalhe parece-me fundamental, pois, do contrário, provavelmente não saberia da existência dessas crianças no local. É que, na certa, as brincadeiras se dariam atrás da propriedade.

Algo que me intriga é que as crianças sempre estão de roupas novas, menos o menor, que, geralmente, encontra-se apenas de fralda. Não sei até que horas ficam na frente da casa, mas não deve ser até muito tarde. É que não gosto muito de sair à noite.

Logo após a novela, me recolho. Leio duas ou três poesias, geralmente do Drumonnd ou do Daniel Marchi, e durmo sem ter certeza de que acordarei na manhã seguinte. Até hoje não morri, mas sei que um dia vou fazer companhia ao meu finado marido no cemitério.

Todavia, deixemos essa conversa mórbida de lado, pois o causo desses meninos me intriga. É que todos os dias, quando vou comprar pão de queijo na padaria, ao passar em frente àquela casa, percebo um pequeno monte de roupas na calçada. Entretanto, ao retornar, o monte sumiu.

Será que os adultos daquela casa não gostam de lavar roupas? Joana, minha vizinha, me disse que, há muito tempo, conheceu uma família assim. Ela me contou que o povo não comprava nem sabão em pó, pois preferia jogar tudo fora. Será que essas crianças são parentes daquela gente?

Não sei se um dia descobrirei tal mistério. Na verdade, nunca tive vocação para fuxiqueira. Mas, caso você descubra algo, não se esqueça de me contar.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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