Versão brasileira do Conservative Political Action Conference, considerado o maior fórum conservador dos Estados Unidos, a quinta Cpac começou nesse sábado (06), na cidade catarinense de Balneário Camboriú, no estado governado pelo direitão Jorginho Mello (PL). Idealizada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (Pl-SP), a reunião foi montada exclusivamente para dar luz à escuridão bolsonarista, ao mesmo tempo em que serve para massagear o ego anarquista de peluqueria do el loco de piedra Javier Milei. Nada mais do que isso.
No discurso de abertura, o ex-presidente Jair afirmou que “não tem ambição pelo poder”, mas sim “obsessão pelo Brasil”. Nem uma coisa e nem outra. O que ele realmente tem é sede de comando, o que não conseguiu alcançar nas Forças Armadas, de onde só não foi expulso por intromissão do Superior Tribunal Militar. Aproveitando os novos e sazonais cinco minutos de fama, o mito de coisa alguma arrematou que “somos um país que tem tudo para ser destaque no mundo. Falta pouco, pouquíssima coisa. Tenho certeza de que nós atingiremos juntos esse objetivo”.
Embora o coro ouvido por sua claque fosse um pedido de volta, meu caro ex-presidente do fim do mundo, eu não teria essa certeza. Não esqueça de que em 2022 mais da metade do eleitorado o rejeitou. Se refizerem as contas, talvez se surpreendam com quedas de votos ainda mais relevantes. Então, seja menos otimista e pare de mentir para os que já estão cheios de suas lorotas. Minta com mais categoria somente para seus apoiadores sedentos de baboseiras. São os que ainda acreditam em duendes, Papai Noel, bruxas e mitos.
Mais uma vez, a imprensa é a culpada por suas mazelas políticas, pessoais e, agora, judiciais. Não proponha o que não está a seu alcance. Dizer que está à disposição para ser sabatinado por duas horas sobre qualquer assunto é outra inverdade, algo que nem os ingleses querem ver. Talvez os meninos maluquinhos recém surgidos na Argentina. É natural que sua santidade exponha uma coragem que não tem em um reduto familiar, amigável e, principalmente, “patriótico”.
Como o personagem Rolando Lero, que nunca responde o que é perguntado, mas sempre inventa histórias para engambelar os fanáticos patriotas, Jair discursou como um valente estadista, daqueles que estão prontos a dar a vida para mostrar uma perseguição que jamais existiu. Nesse caso, tenho de homenagear os falecidos Chico Anysio e Rogério Cardoso, criadores do personagem da Escolinha do Professor Raimundo. Pelo menos o Rolando Lero original era mais criativo.
Curioso é que esse perfil destemido só é observado em campos parceiros. Quando a cancha é neutra, o bicho pega. Surge o medo, o silêncio e não há sinal de wi-fi que consiga ultrapassar as quatro linhas. Foi assim na sede da Polícia Federal, durante o depoimento que prestou sobre a venda de joias recebidas de governos estrangeiros e oficialmente do acervo da Presidência da República. Entrou mudo e saiu calado. É melhor não assanhar a imprensa desvinculada de seus sonhos de poder. Diz o ditado que quem não tem isso não faz trato com aquilo. Portanto, deixemos de churumelas. Pela desimportância da figura, quase me esqueço de informar que Javier Milei participa hoje da ação entre amigos.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras