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Mocidade de Padre Miguel vai misturar as aventuras de Dom Quixote com pixote brasileiro

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Cristina Índio do Brasil

Dom Quixote de La Mancha vai cair no samba no domingo (7) de carnaval, quando entrar na avenida a Mocidade Independente de Padre Miguel, a verde e branco da zona oeste do Rio. Ela será a quinta das seis escolas do Grupo Especial do Rio que vão desfilar nesse dia. O enredo é O Brasil de La Mancha: Sou Miguel, Padre Miguel. Sou Cervantes, Sou Quixote Cavaleiro, Pixote Brasileiro, desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada e pelo diretor artístico, Edson Pereira, e dedicado ao povo brasileiro que, segundo ele, mesmo com as dificuldades, as crises econômica e política, sonha e tem esperança de um país melhor.

Alexandre Louzada revelou que o carnaval da Mocidade em 2016 é gigante, o que pode ser notado em uma visita ao barracão. As alegorias são altas, longas e algumas contam com tecnologia para os movimentos das esculturas. O personagem de Miguel de Cervantes vai estimular a avaliação das “mazelas” do Brasil e propor uma saída para os problemas. O carnavalesco destacou que o lado cultural do enredo propõe a reflexão de que para entender tudo que ocorre no país é preciso mais leitura.

“Para que a gente tenha mais dom Quixotes, daqui para a frente a gente tem que investir mais nos pixotes de hoje, dando as armas certas: livros, lápis, caderno, educação de qualidade, para que eles possam discernir o que é certo e o que é errado. Eles podem ser a geração futura que vai limpar as manchas deste país”, afirmou.

Dificuldades – Louzada revelou que por causa da alta do dólar e da crise econômica do país, a escola, como tantas outras, enfrentou a falta de importação de produtos, entre eles pedrarias e galões que fazem o enfeite de fantasias. Ele adiantou que não foi preciso substituir muitos materiais, mas que em algumas alegorias se valeu dos alternativos. “Já fizemos um carnaval pensando um pouco na crise”. Um exemplo é o carro número 5, chamado de Sacra Insurreição. Ele vem em um setor que lembra escritores como Graciliano Ramos e é um réquiem à Guerra de Canudos para destacar os problemas que, ainda hoje, o Nordeste enfrenta.

De acordo com Louzada, na visão original, o enredo era uma luta entre o bem e o mal e, com o aparecimento de fatos novos no país, ele acabou ficando super atual, polêmico e necessário. “Acho que é levantar a bandeira dos anseios do povo, do que o povo gostaria de dizer e ilustrar para todo mundo, o que está acontecendo aqui. Não deixar morrer a cobrança popular. Esse enredo tem essa função. Nós nos tornamos o verdadeiro país de La Mancha. Cada dia surge um fato que mancha a imagem do país e a nossa alma”.

Confiança – Engana-se, no entanto, quem pensa que o enredo é só tristeza e sofrimento. Com a característica de escola de samba com uma comunidade forte, que canta alto o samba e gosta de animação, o fim do desfile trará a confiança em um país melhor. “Nós priorizamos os fatos e não os protagonistas. Os protagonistas, nós queremos que não existam e que sejam postos atrás das grades, que é como o nosso enredo termina, com a esperança de que a Justiça prevaleça e a gente possa viver em um país nota 10 em todos os quesitos”, completou.

O carnavalesco, que desde 1998 conquistou cinco campeonatos, acredita que a Mocidade tem carnaval para um título. “A Mocidade não é um sonho impossível, como diz a própria música-tema do musical de dom Quixote. Competitiva, que ela possa voltar a ser uma escola presente no desfile das campeãs. É uma luta. Temos vários gigantes, vários moinhos para vencer, mas se Deus quiser vamos sair vencedores”, concluiu.

O presidente da escola Wandyr Trindade, o Macumba, concordou com o carnavalesco. Ele disse que ninguém faz carnaval para ficar em segundo lugar. “Estamos com tudo e a Mocidade quer voltar ao astral que tínhamos antes e que perdemos um pouco. Vamos com tudo para disputar o carnaval”, garantiu.

Agência Brasil

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