Curta nossa página


Verdades absolutas

Momento político exige deixar polarização de lado e pensar no futuro

Publicado

Autor/Imagem:
Armando Cardoso* - Foto de Arquivo/ABr

Polarizado e, agora, monotemático, o Brasil já se achou do futuro, mas nunca abriu a porta para o amanhã entrar. Assim somos nós, os humanos com pensamentos muitas vezes animalescos. Embora saiba que não posso prever o que ainda está por vir, às vezes me pego prevendo o futuro do país, que não parece tão alvissareiro. Torço para que eu esteja errado sobre minhas previsões. No entanto, se eu estiver certo, tomara que dê errado. Em numerosas e variadas ocasiões, ouvi Chico Anysio dizer que, no Brasil de hoje, da mesma forma que os cidadãos têm medo do futuro, os políticos têm medo do passado. Chico partiu faz 12 anos, o que prova que o país do futuro está bastante atrasado.

Não sei se ainda estarei por aqui, mas, do jeito que pensamos e agimos, provavelmente daqui a 15, 20 ou 30 anos estaremos no mesmo buraco de agora. Nos esquecemos muito rápido de que a vida é aquilo que acontece enquanto planejamos o futuro. Como nem os sertanejos esperam mais por tempo bom, a única coisa óbvia é que não se pode planejar o futuro pelo passado. Contrariando a mim e a todos os filósofos de cartas de tarô, inquestionavelmente a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Portanto, arregacemos as mangas, ajeitemos as esporas e as botas e esqueçamos de vez que o Brasil também tem vida fora da mesmice política que vivemos.

Seria muito mais salutar para o desenvolvimento do país e do seu povo se, em lugar da divergência entre atitudes políticas de extremos ideológicos, nos brindássemos com mais debates propositivos. Assim como o céu e o inferno estimulam o conflito entre diferentes religiões, a polarização envolvendo a direita e a esquerda só facilita o discurso dos políticos incompetentes e incapazes de criar fatos novos. Aliás, vale recuar no tempo e digerir, sem engolir antes de mastigar, a tese dos mais velhos, para os quais a gente briga e se mata pela política, mas os políticos sempre surpreendem os brigões comendo no mesmo cocho. Atualmente, a mídia e as redes sociais têm apenas dois focos: Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro.

Encerrados os Jogos Olímpicos de Paris, saiu deles é Flamengo, Botafogo e Palmeiras. Vasco, Corinthians, São Paulo, Fluminense e Grêmio são citados somente quando o ministro Alexandre de Moraes, Silas Malafaia, Nicolás Maduro, as urnas eletrônicas ou um novo avião despencando dos ares não estão na berlinda. Mais chato do que isso só os pedidos midiáticos para que Lula cobre as atas eleitorais escondidas nas gavetas de Vladimir Putin pelos chavistas da Venezuela. Será que o Brasil de hoje está restrito a isso? O mundo por si só já é polarizado. Temos o bem e o mal, o claro e o escuro, o certo e o errado, o apego e o desapego, o amor e o ódio, os “patriotas” e os brasileiros e o eleitor honesto e os políticos desonestos. Não chega?

Considerando que a polarização política interessa exclusivamente aos políticos, cujo objetivo maior é nos manter sob controle, o melhor caminho é deixarmos de ser monotemáticos também em nossas escolhas. Sem muitas delongas ideológicas, o que vale dizer é que, de um lado ou de outro, os extremistas se julgam faladores e formadores de opinião. Entretanto, não passam de cegos e surdos à procura de suas verdades absolutas. Pelo fim da barbárie política, é bom lembrar que a tolerância, o diálogo, a solidariedade e a humildade são as armas que devem ser usadas para um bom combate. À luta.

*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.