O espaço físico também tem memória. E, para a arquiteta Helena Camargo, do escritório H2C Arquitetura, esse foi o fio condutor do projeto de reforma deste apartamento de 165 m², localizado no Itaim Bibi. Distribuídos em pontos estratégicos, objetos e móveis contam parte da trajetória de seu casal de moradores. Mesmo após o imóvel passar por sucessivas reformas.
“Nosso principal desejo foi ter algum contraponto entre o acervo corriqueiro de uma casa e informação visual com valor agregado”, explica Helena, responsável pelas duas intervenções que aconteceram no apartamento. Em um primeiro momento, quando um dos moradores se mudou para lá para viver sozinho. “À época, o apartamento era bem masculino, feito para um rapaz sozinho, solteiro. Cheio de elementos de concreto, bem brutalista”, detalha.
Tempos depois, o casamento do morador fez com que a ideia de lar recebesse nova conotação. “Quando a esposa dele foi morar no apartamento, queria algo menos sério. Faltava leveza. Eles começaram a receber mais, a fazer mais festas em casa e sentiram falta de uma cozinha integrada com a sala”, diz.
Hoje, unidos, a transição entre os ambientes é quase imperceptível. “Invadimos parte da cozinha com madeira, para que não ficasse tão fria. A mesa de jantar atua como um divisor de águas. De um lado, acontecem as coisas ‘técnicas’. No outro, as ‘sociais’”. Como na maioria de seus projetos, a arquiteta optou por manter o piso original do apartamento. “Raramente aconselho um cliente a remover madeira. Ela dura muito tempo.”
Ainda na área de intersecção entre os espaços, outro revestimento se fez presente, desta vez na parede: um espelho foi colocado com o intuito de ampliar a percepção de espaço. “Ele rebate a luz natural e neste trecho conseguimos duas coisas ideais em qualquer projeto, que é ventilação e iluminação cruzadas”, conta.
Por toda a área, paredes recobertas por quadros revelam a paixão dos moradores pelas artes plásticas. “São obras adquiridas em diferentes momento da vida que acabam por contar parte da história do casal”, lembra Helena, que neste ponto do seu trabalho percebeu que havia um outro fator a ser levado em consideração pela nova organização espacial: o filho de um dos moradores da casa, que vive no exterior, mas costuma passar suas férias em São Paulo.
A reforma precisaria, portanto, criar condições de abrigar o eventual visitante e, dessa forma, duas suítes se transformaram em uma, com direito a banheira. Com o ladrilho hidráulico no piso, mais uma vez, respondendo pela sensação visual de continuidade.
Na perspectiva de quem chega, o efeito visual também não deixa nada a desejar. Inicialmente pensada apenas para recobrir a porta de entrada, o vermelho, em tonalidade intensa, toma conta de todo o hall, em contraponto a um móvel azul do acervo pessoal do casal. O impacto, segundo Helena, é imediato. “É de fato memorável entrar neste apartamento. Disso não tenho dúvidas”, orgulha-se a arquiteta.