Morreu aos 104 anos, no Rio de Janeiro, a viúva de Donga, o músico que compôs a canção tida como o primeiro samba gravado, “Por telefone”, de 1917. Maria das Dores Santos, a Vó Maria, tinha caído em casa e precisou fazer uma cirurgia no fêmur, mas morreu ao chegar em casa, logo depois de receber alta do Hospital Salgado Filho.
Natural de Mendes, interior do estado do Rio, foi a última mulher de Donga, com quem viveu por 15 anos. Na casa dos dois, na Aldeia Campista, os pagodes de rodas de semana, com direito a feijoadas e acarajés da Vó, recebiam nomes como Pixinguinha, João da Baiana, Martinho da Vila, Ney Lopes, Geraldo Babão, Clara Nunes.
Vó Maria também era sambista, mas só aos 89 fez seu primeiro show. Três anos depois, lançou o primeiro CD.
Luto no samba
Nelson Sargento, uma das lendas do samba, foi um dos colaboradores de luxo do show de lançamento do primeiro disco de Vó Maria, “Maxixe não é samba”, em 2003, juntamente com Xangô da Mangueira, Beth Carvalho, Diogo Nogueira, Dalmo Castelo, Eliane Faria, Nei Lopes e Áurea Martins. Para ele, Vó Maria era uma “figura ímpar”:
“Ela lidou com todos os bambas do samba. Era um pedaço importante da música brasileira, assim como Tia Ciata, tão importante para o início do samba”, analisou ele, emocionado. “Nós todos somos imortais, e com ela não é diferente. A gente, quando vai embora desta vida, vai viver na memória dos que nos conheceram. Será com certeza o caso dela”, declarou o sambista ao G1.
No Facebook, Nilcemar Nogueira, neta de Cartola e Dona Zica, postou texto em homenagem à Vó Maria. “O que dizer de você nesta hora. Sou uma pessoa privilegiada com certeza… Pois pude sentir o seu zelo quando me faltou minha Zica. Sua ternura, elegância, sabedoria marcou sua existência. Está difícil traduzir meu sentimento… Por isso escolhi esta foto dos muitos momentos que passamos juntas… saudade eterna da sua neta Nilcemar.. Vó, receba vó Maria, cuide dela como ela afagou os seus”, escreveu.